por Fernando Brito, Tijolaço -
A Folha publica agora à noite um forte editorial contra o governo Bolsonaro, que a ameaçou, de maneira bem pouco discreta, com pressões sobre seus anunciantes.
O texto é forte, do início ao fim.
Começa por dizer que Jair Bolsonaro é ” uma personalidade que combina leviandade e autoritarismo”. E que, por isso, “terá de ser contido —pelas instituições da República, pelo sistema de freios e contrapesos que, até agora, tem funcionado na jovem democracia brasileira”.
Não é muito sutil ao apontar as ligações perigosíssimas do presidente com grupos milicianos:
Questiona o protagonismo imperial de sua prole, ao dizer que a caneta
presidencial “não transforma o filho, arauto da ditadura, em embaixador
nos Estados Unidos” e que não pode impor os “caprichos da sua vontade e
de seus desejos primitivos”.
Nega que seu inconformismo tenha razões econômicas, dizendo – e é verdade – que não é o cancelamento de algumas dezenas de assinaturas de órgãos públicos que interferirá em seu faturamento, e que não teme as pressões sobre o meio dos anunciantes, o que é quase inteira verdade.
Se não resumi bem o texto, ele vai ao final para que você confira.
Dele, porém, gera-se a necessidade de que o jornal se defina – legitimamente, aliás – como um jornal de oposição, justo como é tratado pelo governo.
Nos comentários online sobre o texto editorial, não são poucos os que questionam o fato de que o jornal critique as ambições ditatoriais na política e as defenda no projeto econômico de Paulo Guedes,
Esta é a pedra-de-toque de uma aliança honesta politicamente.
O que quer, afinal, a Folha, ser um”Estadão” de piercing e de brincos?
O que a hora coloca diante de nós não são borzeguins ao leito. Não é um “estuprem-nos com jeitinho”.
Trata-se de demonstrar e convencer que é preciso formar uma frente contra a fascistização da vida brasileira e de entender que os diques das instituições, nos quais a Folha diz apostar, só serão eficientes se forem efetivamente fortalecidos.
E que o monstro só poderá ser detido se suas duas pernas forem atingidas e elas respondem pelo nome de Paulo Guedes e e Sérgio Moro. Deixem-nas livres e o Leviatã nos avassalará.
Há uma única força no Brasil capaz de detê-lo e todos sabem qual é. Não é preciso que façamos dela outro soberano, como Bolsonaro quer ser. Nem a Folha terá de jurar-lhe uma vassalagem jamais pretendida.
Mas o jornal, de papel passado ainda nesta sexta-feira, flerta com a ideia de que é conveniente manter esta força encarcerada.
Já o comparei, mais cedo, à velha imagem de “mulher de malandro” e, agora, vêm à mente as frases célebres de Nélson Rodrigues: nem todas as mulheres gostam de apanhar, as neuróticas reclamam”.
Que a Folha não seja uma destas.
Veja, abaixo, o editorial:
O Palácio do Planalto não é uma extensão da casa na Barra da Tijuca que o presidente mantém no Rio de Janeiro. Nem os seus vizinhos na praça dos Três Poderes são os daquele condomínio.
A sua caneta não pode tudo. Ela não impede que seus filhos sejam
investigados por deslavada confusão entre o que é público e o que é
privado. Não transforma o filho, arauto da ditadura, em embaixador nos
Estados Unidos.
A Folha publica agora à noite um forte editorial contra o governo Bolsonaro, que a ameaçou, de maneira bem pouco discreta, com pressões sobre seus anunciantes.
O texto é forte, do início ao fim.
Começa por dizer que Jair Bolsonaro é ” uma personalidade que combina leviandade e autoritarismo”. E que, por isso, “terá de ser contido —pelas instituições da República, pelo sistema de freios e contrapesos que, até agora, tem funcionado na jovem democracia brasileira”.
Não é muito sutil ao apontar as ligações perigosíssimas do presidente com grupos milicianos:
O Palácio do Planalto não é uma
extensão da casa na Barra da Tijuca que o presidente mantém no Rio de
Janeiro. Nem os seus vizinhos na praça dos Três Poderes são os daquele
condomínio.
Nega que seu inconformismo tenha razões econômicas, dizendo – e é verdade – que não é o cancelamento de algumas dezenas de assinaturas de órgãos públicos que interferirá em seu faturamento, e que não teme as pressões sobre o meio dos anunciantes, o que é quase inteira verdade.
Se não resumi bem o texto, ele vai ao final para que você confira.
Dele, porém, gera-se a necessidade de que o jornal se defina – legitimamente, aliás – como um jornal de oposição, justo como é tratado pelo governo.
Nos comentários online sobre o texto editorial, não são poucos os que questionam o fato de que o jornal critique as ambições ditatoriais na política e as defenda no projeto econômico de Paulo Guedes,
Esta é a pedra-de-toque de uma aliança honesta politicamente.
O que quer, afinal, a Folha, ser um”Estadão” de piercing e de brincos?
O que a hora coloca diante de nós não são borzeguins ao leito. Não é um “estuprem-nos com jeitinho”.
Trata-se de demonstrar e convencer que é preciso formar uma frente contra a fascistização da vida brasileira e de entender que os diques das instituições, nos quais a Folha diz apostar, só serão eficientes se forem efetivamente fortalecidos.
E que o monstro só poderá ser detido se suas duas pernas forem atingidas e elas respondem pelo nome de Paulo Guedes e e Sérgio Moro. Deixem-nas livres e o Leviatã nos avassalará.
Há uma única força no Brasil capaz de detê-lo e todos sabem qual é. Não é preciso que façamos dela outro soberano, como Bolsonaro quer ser. Nem a Folha terá de jurar-lhe uma vassalagem jamais pretendida.
Mas o jornal, de papel passado ainda nesta sexta-feira, flerta com a ideia de que é conveniente manter esta força encarcerada.
Já o comparei, mais cedo, à velha imagem de “mulher de malandro” e, agora, vêm à mente as frases célebres de Nélson Rodrigues: nem todas as mulheres gostam de apanhar, as neuróticas reclamam”.
Que a Folha não seja uma destas.
Veja, abaixo, o editorial:
Fantasia de imperador
Bolsonaro é incapaz de compreender a
impessoalidade da administração republicana impõe ao exercício da
Presidência. Trata-se de uma personalidade que combina leviandade e
autoritarismo.
Será preciso então que as regras do
Estado democrático de Direito lhe sejam impingidas de fora para dentro,
como os limites que se dão a uma criança. Porque ele não se contém, terá
de ser contido —pelas instituições da República, pelo sistema de freios
e contrapesos que, até agora, tem funcionado na jovem democracia
brasileira.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante solenidade no Palácio do Planalto – Pedro Ladeira-25.nov.19/Folhapress
O Palácio do Planalto não é uma extensão da casa na Barra da Tijuca que o presidente mantém no Rio de Janeiro. Nem os seus vizinhos na praça dos Três Poderes são os daquele condomínio.
Sua caneta não tem o dom de
transmitir aos cidadãos os caprichos da sua vontade e de seus desejos
primitivos. O império dos sentidos não preside a vida republicana.
Quando a Constituição afirma que a
legalidade, a impessoalidade e a moralidade governam a administração
pública, não se trata de palavras lançadas ao vento numa “live” de rede
social.
A Carta equivale a uma ordem do
general à sua tropa. Quem não cumpre deve ser punido. Descumpri-la é,
por exemplo, afastar o fiscal que lhe aplicou uma multa. Retaliar a
imprensa crítica por meio de medidas provisórias.
Ou consignar em ato de ofício da
Presidência a discriminação a um meio de comunicação, como na licitação
que tirou a Folha das compras de serviços do governo federal publicada
na última quinta (28).
Igualmente, incitar um boicote contra anunciantes deste jornal, como sugeriu Bolsonaro nesta sexta-feira (29), escancara abuso de poder político.
Igualmente, incitar um boicote contra anunciantes deste jornal, como sugeriu Bolsonaro nesta sexta-feira (29), escancara abuso de poder político.
A questão não é pecuniária, mas de
princípios. O governo planeja cancelar dezenas de assinaturas de uma
publicação com 327.959 delas, segundo os últimos dados auditados.
Anunciam na Folha cerca de 5.000 empresas, e o jornal terá terminado o
ano de 2019 com quase todos os setores da economia representados em suas
plataformas.
Prestes a completar cem anos, este
jornal tem de lidar, mais uma vez, com um presidente fantasiado de
imperador. Encara a tarefa com um misto de lamento e otimismo.
Lamento pelo amesquinhamento dos
valores da República que esse ocupante circunstancial da Presidência
patrocina. Otimismo pela convicção de que o futuro do Brasil é maior do
que a figura que neste momento o governa.
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