Bolsonaro não liga para pesquisas. Mas liga (e muito) para suas falanges


por Fernando Brito, Tijolaço -

Jair Bolsonaro diz que não perde tempo “discutindo pesquisa Datafolha”.

Também eu não, até porque ela apenas confirmou o que, por outras pesquisas e pela nossa própria percepção já estava evidente: o prestígio de Jair Bolsonaro refluiu da “maré alta” com que arrastou a maioria dos votos e reflui, cada vez mais, para um núcleo de direita que, embora maior e mais falante, sempre existiu e teve um terço das decisões eleitorais no Brasil.

É mais significativo analisar o que se revela neste grupo, e o texto de Anna Virginia Balloussier e Fábio Zanini, na Folha, traduz bem ao reproduzir o que dizem os “eleitores de Bolsonaro que continuam com ele”.

É o capital político de Bolsonaro – o único, já que não tem partido, bancadas e nem história política de liderança. É nele que se focará, é ele que o dirigirá.

A “política” – que não é velha nem nova, é o que é – empurraria o presidente para uma postura de maior moderação e abertura, agregando as forças conservadoras e a fisiologia presente no parlamento brasileiro desde que este passou a existir.

Entretanto, a ideia de exercício do poder no Brasil mudou desde que a histeria autoritária encontrou na Lava Jato o seu conceito-mestre.

A política, tal como é desde então, é a capacidade de ser maniqueísta, autoritário, punitivo, intolerante, messiânico.

É isto que este núcleo espera de seu “Mito” e é isso que ele vai tentar lhes entregar.

Tudo mais é secundário ou mesmo irrelevante, inclusive a reforma da Previdência, o pacote de Sérgio Moro e o que mais for.

Não há um projeto de governo fascista para o Brasil, porque o projeto fascista clássico incluía nacionalismo e crescimento econômico como ingredientes essenciais. No nosso, estagnação e entreguismo são as tônicas.

Há um projeto, isto sim, de fascistização da política, de transformação das relações da vida em ódio, em intolerância, em prisão e em morte.

Para isso, não é preciso maioria, mas a manutenção de uma força intimidante que acue a maioria.

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