Toledo: general não obedece a capitão


por Fernando Brito, Tijolaço -

Já se escreveu aqui sobre como o capitão teria dificuldades em enquadrar um general, falando de como era difícil a Jair Bolsonaro colocar freio e bridão em Hamilton Mourão.

Os fatos mostraram que não era difícil, era impossível.

E o resultado é ver a campanha de Bolsonaro em polvorosa, sem saber como estancar a crise criada pelas críticas do general ao 13°.

Ele fez a concessão mínima: dizer que foi “força de expressão”. Bolsonaro fez a concessão máxima: desautorizar-lhe sem citar o nome.

Mas imagina tê-lo colocado numa prisão domiciliar, onde em lugar de tornozeleira, pensa ter-lhe posto uma mordaça eletrônica, como você vê, acima, no site do Estadão.

Duvido que vá funcionar, e transcrevo, por isso, a ótima argumentação do jornalista José Roberto de Toledo, na Piauí, em trecho de seu artigo:

Se há 63 milhões de brasileiros com nome sujo no SPC, se mais de 40 milhões dependem do Bolsa Família, há pelo menos 33 milhões de carteiras de trabalho assinadas e que dão direito às jabuticabas das quais Mourão reclamou: 13º salário e adicional de férias. A plateia de empresários que o escutou em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, pode vibrar, mas empregadores são apenas 3% do eleitorado. Entre aposentados, assalariados, servidores públicos e desempregados que procuram emprego, estão a maioria absoluta de eleitores que têm ou gostariam de ter 13º. Uns 80 milhões de votos – fora milhões de dependentes econômicos deles.

Bolsonaro, que há décadas depende de votos para manter o emprego, sabe disso. Mourão não. Até o ano passado, o general podia falar quase que impunemente aos soldados que comandava. Apenas nos últimos meses de carreira, depois de exagerar na verborragia, foi promovido a comandar uma escrivaninha.

Se foi uma punição, Mourão não aprendeu com ela. Acha que falar a verdade – a sua verdade, é claro – é mais importante do que as eventuais consequências. Antes do mais recente e potencialmente fatídico episódio de piriri verbal, Mourão já havia sido admoestado duas vezes por Bolsonaro por falar demais. Contou ao repórter Fabio Victor, da Piauíque o capitão pedira que se calasse. Como ficou provado, as admoestações não serviram para nada. O general se encantou com a atenção recebida como vice. Depois que o titular ficou confinado ao hospital, chegou a propor que substituísse Bolsonaro nos debates e sabatinas.

A quizumba prova o óbvio: general não obedece a capitão.


Bolsonaro pode desautorizá-lo em público, pode tentar cancelar a agenda pública de Mourão, mas nada indica que vai conseguir domar seu vice. O general gosta de ter o chicote na mão, não no lombo. Na viagem pelo pampa gaúcho, o vice saudou o público brandindo um rebenque. Difícil imaginá-lo se submetendo ao freio de um subordinado que não quis ou não conseguiu chegar à sua patente como militar – mesmo que o subordinado venha a se eleger presidente e se torne seu superior hierárquico constitucional.

Uma chapa constituída deste jeito é algo que eles dizem tanto odiar: a subversão.

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