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Mas do que ela ri? |
Mauricio Dias, CartaCapital
Traição
anunciada, traição consumada. O ex-governador Sérgio Cabral e o ex-vice
dele Luiz Fernando Pezão, este em busca de um mandato completo de quatro
anos, tornaram difícil, talvez impossível, as viagens de Dilma Rousseff
ao Rio de Janeiro, para fazer campanha eleitoral em palanque armado
pelo PMDB, partido com o qual o PT tem instável aliança nacional.
Nos últimos dias, Cabral e Pezão selaram
desconcertantes acordos políticos com o PSDB, o PPS e o DEM no plano
estadual. Esse grupo inspira o uso daquele velho
jogo de palavras. É um trio partidário capaz... de tudo. Têm, agora, a
missão de carrear votos para Pezão e também para o presidenciável tucano
Aécio Neves. Um reforço inesperado para a oposição no terceiro maior
colégio eleitoral do País com um contingente de 12 milhões de eleitores.
Para o PMDB, o racha resulta da rebelião
local do PT. Após sete anos e três meses a serviço dos peemedebistas,
por imposição da direção nacional, os petistas fluminenses decidiram
lançar candidato próprio ao governo estadual.
Lindbergh Farias, um ex-cara-pintada que emergiu da eleição de 2010 com histórica votação para o Senado. Foram 4,2 milhões de votos. Mais de um terço do total do estado.
Lindbergh Farias, um ex-cara-pintada que emergiu da eleição de 2010 com histórica votação para o Senado. Foram 4,2 milhões de votos. Mais de um terço do total do estado.
Com a força dessa votação e apoio do
ex-presidente Lula, lançou-se como pré-candidato ao governo do estado.
Dilma e o PT estão diante de um caso clássico de traição. Há rompimentos
em outros estados. No Rio, entretanto, há rastro de traição. Tem um
gosto mais amargo. Além de substancial ajuda material do governo
federal, a relação política era alimentada por juras públicas de amor
sincero e lealdade política. Sérgio Cabral não digeriu o sapo. Tentou
bloquear a candidatura de Lindbergh. Fracassou quando foi chorar no
ombro da presidenta. Ele mesmo divulgou a resposta dela: “Isso é coisa
do Lula”.
Lula, de fato,
tem um projeto de dominar politicamente o Sudeste, onde está quase 50%
do total de eleitores brasileiros. Isso faz parte de uma virada no
discurso dele. Ficou visível na recente convenção do PT, onde ele
apareceu com uma camisa branca com a sigla “PT” sob o blazer preto
desabotoado. Franca exibição. Desta vez, o ex-presidente temperou a
necessidade de alcançar o objetivo nacional, a reeleição de Dilma, com
ênfase na eleição de governadores, senadores e deputados petistas.
Sérgio Cabral pagou com a mesma moeda a resposta que ouviu de Dilma. Mas
a moeda dele tinha cara e coroa. Refundida virou um punhal.
A arma branca
estava preparada desde que emergiu um movimento chamado “Aezão” (Aécio
mais Pezão), aparentemente comandado por Jorge Picciani, milionário
político interiorano, presidente do PMDB fluminense e extremamente
ligado a Cabral. Diante dos afagos de Cabral e Pezão, a reação, naquele
momento, parecia uma ovelha desgarrada do rebanho.
Logo após o momento em que as pesquisas
começaram a indicar uma possibilidade de Dilma não ganhar no primeiro
turno, armou-se a cena final de violação do acordo. Ou seja, a traição.
Cabral e Pezão não são movidos pelas razões que levaram Brutus e Cássio a
apunhalar César. Cabe, porém, lembrar Marco Antônio: segundo
Shakespeare, diante do corpo sangrado do cônsul abatido aos pés da
estátua de Pompeu, diz: “A ambição torna as pessoas duras e sem
compaixão”.
Ambição, seu nome é política."
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