Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa
"A Folha de S. Paulo publica na edição de quinta-feira (15/5) comentário sobre a lista das famílias mais ricas do Brasil, segundo a revista Forbes.
Encabeçando a relação dos bilionários, acima dos donos de bancos e dos
controladores dos grandes agronegócios e empreiteiras, brilha o
sobrenome dos proprietários das Organizações Globo. Também aparecem na
lista, entre as quinze maiores fortunas do país, os herdeiros de Victor
Civita, fundador da Editora Abril.
De acordo com a revista americana de negócios, as quinze famílias mais
ricas do Brasil concentram um patrimônio avaliado em US$ 122 bilhões, ou
cerca de R$ 272 bilhões. Esse montante equivale a cerca de 5% do
Produto Interno Bruto nacional.
Os três filhos do patriarca Roberto Marinho, falecido em 2003, dividem
um total de US$ 28,9 bilhões, o equivalente a R$ 64 bilhões. Entre eles e
a família colocada em segundo lugar, os banqueiros Safra, há uma
diferença de quase US$ 9 bilhões.
As listas dos bilionários são costumeiramente publicadas pela imprensa
quase como uma dessas curiosidades de almanaque, e poderiam inspirar
reportagens mais instigantes sobre o sistema econômico, que produz
enormes concentrações de riqueza e, na outra ponta, mantém um grande
contingente de cidadãos em condições de vida degradantes. Mas o leitor e
telespectador nunca irá se deparar com esse jornalismo crítico,
justamente porque a imprensa, como instituição, tem como função
principal esconder essa realidade.
Não se está aqui a pregar a queda da Bastilha. Mas a persistência,
entre nós, de problemas sociais inadmissíveis para o mundo moderno, se
apresenta ainda mais chocante diante de tamanha concentração de bens por
parte de uma ou duas dezenas de famílias.
No que concerne àquilo que fazemos aqui, a observação da imprensa,
convém atentar para o fato de que a família mais rica do Brasil
construiu seu patrimônio com o negócio da comunicação, justamente no
período em que o país viveu mergulhado na ditadura civil-militar. Também
se deve considerar que, das quinze famílias mais ricas, duas fundaram
seus impérios no ramo da comunicação e, entre as demais, o maior
contingente é o dos banqueiros.
Concentração da mídia
O texto original da revista Forbes (ver aqui)
traz informações interessantes sobre o processo de concentração da
riqueza no Brasil. Como em outros países, a melhor maneira de se tornar
bilionário por aqui ainda é nascer numa família de bilionários, mesmo
considerando que a porcentagem de herdeiros vem decrescendo nos últimos
rankings dos mais ricos do mundo.
No Brasil, segundo a revista, há um aspecto interessante representado
pelo fato de que, dos 65 bilionários listados, 25 são parentes entre si.
Esse aspecto, segundo a publicação, resulta do fato de que as maiores
empresas do Brasil ainda são controladas por famílias, ao contrário de
outros países, como os Estados Unidos, onde a tendência é abrir o
capital, o que dinamiza a economia e abre mais possibilidades de
compartilhamento da riqueza produzida pelos negócios. Segundo a revista Exame, citada na reportagem da Forbes, seis dos dez maiores conglomerados brasileiros são controlados por famílias.
Na análise sobre a fortuna da família Marinho, a Forbes anota o seguinte:
“Os irmãos Marinho são donos de 100% das Organizações Globo, incluindo a
Rede Globo, que controla metade do mercado de televisão do País, com
vendas que atingiram US$ 4,8 bilhões (em torno de R$ 10,6 bilhões) e
geraram lucros de US$ 1,1 bilhão (cerca de R$ 2,4 bilhões). Apesar de
ser a maior companhia midiática do Brasil, a Globo resiste em abrir seu
capital e permanece como um negócio de família”.
Para a revista, que tem origem americana, soa esquisita essa
resistência a abrir o capital, mas na cultura brasileira o capitalismo
ainda tem certas características de capitania hereditária.
O que não aparece na Forbes, e que certamente nenhum leitor irá
encontrar na imprensa hegemônica do Brasil, é a discussão aberta sobre a
concentração dos meios de comunicação.
Comentários