"Dados dos últimos dias mostram que a compra da refinaria norte-americana foi um negócio menos feio do que se divulgou
Paulo Moreira Leite, ISTOÉ
Mas um salto para equiparar o
preço dos combustíveis ao mercado internacional teria efeitos daninhos
para as famílias de trabalhadores, também. Os preço dos alimentos e dos
principais bens de consumo iria subir consideravelmente, criando
dificuldades no orçamento doméstico, aqui e agora, além de gerar novas
pressões inflacionárias."
Paulo Moreira Leite, ISTOÉ
O
governo mostrou-se desarticulado e dividido no debate sobre Pasadena,
assunto que a população acompanha de olhos atentos – justamente por
compreender o lugar da Petrobrás no desenvolvimento do país.
Ocorreram acusações e cobranças que só beneficiam os adversários de Dilma-Lula.
O balanço de três semanas de denúncias mostra que aí reside o maior risco.
O debate sobre a compra de
Pasadena (eu acho esquisita essa mania de falar Pasadíiina, com
pronuncia inglesa para uma palavra castelhana) está ficando mais claro
do que parecia no início.
E isso não é bom para a oposição, que queria transformar o negócio no escândalo de entrada da sucessão presidencial.
Não sou
especialista em petróleo e por isso evitei fazer comentários e
observações antes da poeira baixar. Diante dos dados surgidos nos
últimos dias, a pura lógica comercial permite considerar que a compra
de 50% da refinaria, entre 2006-2007, era um bom negócio.
Tanto é assim que,
quando surgiram as primeiras divergências, os belgas se ofereceram para
desfazer a compra e pegar a empresa de volta. Se fosse aquele mico
escandaloso, do qual teriam tido a chance de se livrar aplicando um
conto do vigário no governo brasileiro, a reação natural seria de deixar
a Petrobrás com o prejuízo, vamos combinar.
Em vez disso, em 2007 os belgas fizeram duas tentativas para desfazer o negócio. Engraçado, não?
Também parece claro que boa
parte dos esforços da oposição para criminalizar o diretor da
Petrobrás, Nestor Cerveró não funcionaram.
Cerveró deu um depoimento firme
e consistente no Congresso, a tal ponto que os deputados do PSDB e do
PSB foram embora trocando sorrisos amarelos.
No esforço para seguir
justificando a convocação de uma CPI exclusiva para debater o caso, um
deles chegou a dizer que nesta situação seria mais fácil promover um
massacre sem apelação do depoente.
Quanto espirito cívico, quanta preocupação para esclarecer um negocio de US$ 1,2 bilhão, não é mesmo?
Em sua entrevista
ao Estado de S. Paulo, Sérgio Gabrielli, que presidia a Petrobrás no
momento da compra e assume sua responsabilidade pelo que ocorreu,
colocou um dado importante. Lembrou que em 2014, com a nova conjuntura
econômica americana, Pasadena deu um lucro de US $ 54 milhões num único
mês.
Fazendo uma projeção linear de
ganhos futuros, Gabrielli argumentou que, a seguir nesse ritmo, em dez
meses o prejuízo do negócio terá sido coberto.
Pode ser otimismo
excessivo, claro. Mas, como nada indica uma recaída no crescimento
norte-americano nos próximos meses, a projeção faz sentido.
Coube a Gabrielli
esclarecer um ponto importante sobre a compra. Lembrou que grande parte
do custo final se refere ao que a Petrobrás teve de pagar a Astra Oil
por decisão da justiça norte-americana. Estamos falando de conflitos
jurídicos, que tiveram um resultado desfavorável, e não de pagamentos
feito voluntariamente, numa insinuação que tinha a finalidade de dar a
impressão de que tudo havia sido uma compra superfaturada e a partir daí
sustentar ...você sabe o que.
Ninguém precisa imaginar que não podem aparecer novos esqueletos no armário da Petrobrás. Não se sabe, até agora, o que se apurou em torno dos negócios de Paulo Roberto da Costa, o ex-diretor que se encontra preso.
Ninguém precisa imaginar que não podem aparecer novos esqueletos no armário da Petrobrás. Não se sabe, até agora, o que se apurou em torno dos negócios de Paulo Roberto da Costa, o ex-diretor que se encontra preso.
Também não se sabe se os R$ 10 bilhões do doleiro
Alberto Youssef podem trazer informações relevantes a respeito. É
preciso aguardar pelas investigações.
O que está claro, hoje, é o lugar da oposição e do governo.
Com apoio de empresários que
desde a fundação da Petrobrás se dedicam a combater o monopólio estatal
do petróleo e defendem a privatização da empresa, a oposição contou com
muitas mãos amigas para encenar um teatro que não lhe cabe. Fingir que
quer defender a empresa quando sua história e seu discurso aponta na
direção contrária. Não custa lembrar que em 2003 o patrimônio em Bolsa
da Petrobrás se encontrava em US$ 15 bilhões e que hoje vale US$ 180
bilhões.
Ou seja: se for para fazer brincadeiras estatísticas, a oposição ainda deve R$ 165 bilhões.
Em qualquer caso, é bom
relativizar o valor da Petrobrás na Bolsa. A remuneração de acionistas
não pode ser o único critério para se julgar o desempenho de uma empresa
que não é um investimento privado igual a tantos outros, mas foi
formada com recursos da população – ou do contribuinte, com diz a turma
do impostômetro. Sua finalidade é atender à necessidades do país e não
enriquecer acionistas.
A verdade oculta sobre a
desvalorização da Petrobrás consiste em dizer que ela deveria reajustar o
preço dos combustíveis, o que deixaria seus acionistas felizes. Pode
ser. Muita gente gosta de lembrar que milhares de assalariados
investiram seu FGTS em ações da Petrobrás e agora perdem patrimônio.
Verdade.
Comentários
Paulo Moreira Leite merece toda a admiração que temos por seu profissionalismo e seu estilo.
Agradecida por esta página da nossa História.