Imagem do game "Mate Mc DaLeste", que circula na internet |
Jogo bom, merece ganhar o jogo no ano 2013”; “Sacanagem não terem criado ainda outros níveis com outros funkeiros”; “FUNKEIRO BOM É FUNKEIRO MORTO”; “Ja baixei e joguei é divertido! :D zerei 3 vezes ja! Muita alegria mata esse verme!!!!! hehehe”; “Não sou fã de funk , mas comemorar a morte de uma pessoa só porque você não gosta do estilo de música que ele faz é osso hein”; Estes são alguns dos 26.373 comentários embaixo do vídeo ilustrativo do jogo Mate o MC Daleste, que está disponível para download em alguns sites.
O jogo mostra Daleste em cima de um palco cantando a música “mata os policia é a nossa meta”. Sucesso do Mc em um tempo que o funk “proibidão” estava em evidencia na cidade de São Paulo. O cenário mostra jovens sem camisa portando fuzis, a Regina Casé - fazendo alusão ao programa Esquenta, o logotipo da rede Globo ao lado da bandeira do PT e do programa Bolsa Família. MC Tati Quebra Barraco também está em cena. Todos são assassinados.
O vídeo revela o reflexo de uma sociedade reacionária, que reforça mais e mais a intolerância cultural. Um jovem índio (desaldeado) não é respeitado em uma escola caso ele chegue de cocar para assistir uma aula. O mesmo acontece com ciganos, hippies, negros, nordestinos, gays, povos tradicionais e de terreiros. Isto mostra que não somos capazes e conviver com as diferenças dentro da nossa própria espécie.
O motivo da assassinato do Daleste, Daniel
Pelegrini, 20 anos, que aconteceu no último dia dia 6 de julho em uma
festa junina na periferia de Campinas, ainda não foi desvendado. Assim como a
morte de outros seis Mc`s que foram assassinados segue sem solução. Todos
cantavam o estilo “proibidão”, que retrata o cotidiano da relação (de guerra)
entre policia e crime organizado.
Os MC`s de funk fazem parte do universo da
cultura periférica. Eles vêm das margens da cidade, onde o estado chega através
das forças de repressão, e onde a ausência de politica pública é presente e
constante. São lugares onde falta investimento, e há violações constantes de
diretos humanos. Ali cresce uma geração que não enxerga sentido nas escolas mas
que valoriza a tradição oral.
Assim como o Rap, o Funk nasce em um
cenário periférico urbano e é utilizado como um instrumento de denúncia e
também de entretenimento. No Rio de Janeiro (nas comunidades não ocupadas pelas
UPPs), o funk cumpre o papel de empoderamento dos jovens. Gira a economia
local, gera empregos, socializa sonhos e é um ótimo instrumento pedagógico,
pois toca em assuntos e discorre sobre o mundo que muitos jovens vivem ou se
identificam.
O funk vem crescendo, e um dos estilos
responsáveis por isso é o ostentação. Trata-se de músicas onde os Mc`s escrevem
letras sobre baladas, carrões, correntes de ouro, mulheres, mansões, aviões. Algo
parecido com os clipes dos rappers norte americanos como 50Cent e Soop Dog. Daleste,
em seus últimos sucessos, não cantava mais “proibidão”. Ele pregava, sim, a
ascensão, a vida que a mídia tradicional mostra todos dias, o respeito que o
dinheiro traz, que os jogadores de futebol mostram, a construção de um mundo em
que a maioria dos jovens querem.
Cantar “proibidão” ou ostentação, na
maioria dos casos, não é só uma questão de escolha, identidade ou bandeira, mas
de sobrevivência mercadológica. A maioria dos artistas escrevem músicas
de acordo com o que o seu público gosta, independente do estilo. No funk, não é
diferente, mas por ser um estilo de música de origem pobre, negra e periférica
sofre com a discriminação e a intolerância cultural.”
Comentários