Urariano Mota, Direto da Redação
“Um jovem de
grande inteligência e observação, que conhece muitos países europeus, me enviou
esta mensagem ontem:
“Para muitos gringos, os
brasileiros, os que não são europeus, não passam de macacos. Aquilo que o
senhor escreveu em ‘O filho renegado de Deus’ ainda acontece na Europa. Aquilo
não está só como os gringos viam um negro no Recife em 1961. Mas muita gente
tenta esconder essa realidade. Ou fazer de conta que não acontece. Mas
acontece, todos os dias, ainda hoje”.
E de fato, amigos, leio na
Folha de São Paulo nesta quinta-feira que jovens da periferia, lá
na exemplar Suécia, revoltados, queimaram carros. E que esses protestos
começaram depois da repressão policial ter matado um imigrante velho. Pior, a
mesma polícia que matou abre investigação sobre o crime. Mas nem com tal
providência evitou a revolta dos jovens. Eles acusam as forças de segurança de
abuso de autoridade, de bater em idosos e crianças e de chamar os imigrantes,
na maioria negros, de ‘macacos’...”.
Então ligo a mensagem
recebida à notícia de hoje, e por isso navego pela internet para ver o quanto a
Europa e os Estados Unidos em crise descontam nas costas dos imigrantes os
problemas econômicos. O novo aqui – se novidade há – é o crescimento do ódio em
velhos preconceitos contra os latinos, africanos, ou de um modo mais amplo,
contra os não-europeus. Assim ocorre na Itália, onde a nova ministra da
Integração, Cecile Kyenge, vem recebendo insultos por ser negra e mulher. Sites
de extrema-direita a têm rotulado como “macaco congolês”.
Assim é com o jogador Mario
Balotelli, o craque da seleção italiana, que tem sido vítima de humilhações nos
estádios, como no San Siro, em que a torcida da casa fez barulhos e imitações
de macacos para provocá-lo. No primeiro tempo, o atleta mandou a torcida
adversária se calar, porém perto do fim do segundo tempo a situação ficou
insustentável e o juiz teve que paralisar o jogo por alguns minutos.
Essas noticias falam que
esse não foi um caso isolado. Em Portugal, a situação se repete com uma
brasileira de nome Kelly dentro do BBB português. Recentemente, Macau, um dos
participantes do Big Brother de Portugal, imitou um macaco enquanto Kelly
tomava banho. Já na Espanha, depois de fazer uma falta no atacante Cristiano
Ronaldo, na derrota do Barcelona para o Real Madrid, por 2 a 1, o lateral-direito Daniel
Alves teve que ouvir insultos no Santiago Bernabéu, de acordo com a imprensa
espanhola. O brasileiro, já nos últimos minutos do jogo, escutou sons de
imitações de macacos vindos das arquibancadas do estádio.
Esse tem sido um
comportamento repetido, da Inglaterra à França, mais a Grécia e onde a crise
econômica desponta. O insulto e o desprezo por humanos diferentes não é
novo. A novidade é que os macacos antigos agora vão além dos negros, atingem os
muçulmanos, imigrantes pobres, pessoas de pele clara, e tudo que for estranho. Enquanto
escrevo, recebo a informação de que os estrangeiros não gostam de ser tratados
por “gringos” no Brasil. É natural e justo que não se sintam bem. Mas em
um contexto de incompreensões e discórdia, creio que o leitor entenderá o
título da coluna.
O trecho do romance “O filho
renegado de Deus” a que o jovem se referiu é este:
“- Eu serei o seu guia e
intérprete no Recife, excelência.
Então uma jovem ao lado de
Ted Kennedy, com jeito de fina, educada, parecendo uma condessa, então essa
senhora vai falar para Edward, em gíria do Sul dos Estados Unidos:
- Quem vai nos servir é este
macaco?!
Sim, então nessa frase o
negro Filadelfo sentirá, com tamanha raiva, mágoa que o deixará ferido, então o
negrinho vai sentir que serão crescidas dentro de si florestas de macacos, um
povo de grandes símios, um mato, uma cerrada população de árvores onde pulam
chimpanzés como ele, como sua mãe, como sua avó escrava, um povo de caricatura
a pular entre árvores, onde se confundem os colonizadores filhos de
colonizadores, netos de colonizadores, todos de capacete e rifle em safáris. É
natural que não diga nem ao padrinho Manoel de Carvalho, pois o espírito acima
de tudo não o perdoaria, e Filadelfo não podia contar que apenas respondeu,
quando deveria cuspir, escarrar no imaculado e gentil braço da suave dama, mas
apenas disse:
- Senhora, eu não sou
macaco.
- Oh, não, o senhor entendeu
mal, ela não disse isso – meio a contragosto
contemporizou o nobre representante dos Estados Unidos. Ao que ele, o macaco
que falava, apenas disse:
- Senhor, eu falo inglês e
entendo bem as suas gírias”.
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