“Essa frase, ouvida por muitas mulheres na
hora do parto, é uma das tantas caras da violência obstétrica que vitima uma em
cada quatro mulheres brasileiras. Eu fui uma delas
Eu tive meu filho em um esquema conhecido
por profissionais da área da saúde como o limbo do parto: um hospital precário,
porém maquiado para parecer mais atrativo para a classe média, que atende a
muitos convênios baratos, por isso está sempre lotado, não é gratuito, mas o
atendimento lembra o pior do SUS, porém sem os profissionais capacitados dos
melhores hospitais públicos nem a infraestrutura dos hospitais caros
particulares para emergências reais. Durante o pré-natal, fui atendida por
plantonistas sem nome. Também não me lembro do rosto de nenhum deles. O meu
nome variava conforme o número escrito no papel de senha da fila de espera: um
dia eu era 234, outro 525. Até que, durante um desses “atendimentos” a médica
resolveu fazer um descolamento de membrana, através de um exame doloroso de
toque, para acelerar meu parto, porque minha barriga “já estava muito grande”.
Saí do consultório com muita dor e na mesma noite, em casa, minha bolsa rompeu.
Fui para o tal hospital do convênio já em trabalho de parto.
Quando cheguei, me instalaram em uma
cadeira de plástico da recepção e informaram meus acompanhantes que eu deveria
procurar outro hospital porque aquele estava lotado. Lembro que fazia muito
frio e eu estava molhada e gelada, pois minha bolsa continuava a vazar. Fiquei
muito doente por causa disso. Minha mãe ameaçou ligar para o advogado, disse
que processaria o hospital e que eu não sairia de lá em estágio tão avançado do
trabalho de parto. Meu pai quis bater no homem da recepção. Enquanto isso,
minhas contrações aumentavam. Antes de ser finalmente internada, passei por um
exame de toque coletivo, feito por um médico e seus estudantes, para verificar
minha dilatação. “Já dá para ver o cabelo do bebê, quer ver pai?” mostrava o
médico para seus alunos e para o pai do meu filho. Consigo me lembrar de poucas
situações em que fiquei tão constrangida na vida. Cerca de uma hora
depois, me colocaram em uma sala com várias mulheres. Quando uma gritava, a
enfermeira dizia: “pare de gritar, você está incomodando as outras mães, não
faça escândalo”. Se eu posso considerar que tive alguma sorte neste momento,
foi o de terem me esquecido no fim da sala, pois não me colocaram o soro com
ocitocina sintética que acelera o parto e aumenta as contrações, intensificando
muito a dor. Hoje eu sei que se tivessem feito, provavelmente eu teria implorado
por uma cesariana, como a grande maioria das mulheres.”
Artigo Completo, ::AQUI::
Comentários
Não há mais respeito e consideração, tudo ao deus mercado!!!