“Vista por adversários como uma tentativa
de calar a oposição, o plano obrigará o grupo Clarín a vender parte de suas
concessões de televisão a cabo na Argentina
Sabbatella explicou que o Estado "agirá" definindo as empresas que caberão a cada grupo empresarial que não limitar seus negócios até o próximo dia 7 de dezembro (batizado de 7D pela imprensa local).
Marcia Carmo, BBC Brasil / Brasil 247
O
governo argentino apresentou nesta quarta-feira o polêmico projeto para mudar o
mercado da mídia no país. Voltada para os setores de rádio e de televisão, a
lei, que entra em vigor no próximo dia 7 de dezembro, determina que as empresas
que não limitarem suas operações "voluntariamente" à fatia de mercado
fixada pela nova norma terão suas licenças leiloadas e licitadas pela
administração central.
As
informações foram dadas pelo presidente da Autoridade Federal de Serviços de
Comunicação Audiovisual (Afsca), Martín Sabbatella. O objetivo, segundo ele, é
evitar a formação de "gigantes" no setor de comunicação social no
país.
No
entanto, para muitos analistas, a iniciativa do governo argentino é uma
tentativa de "calar a oposição", especialmente o Grupo Clarín, um dos
maiores críticos da administração de Cristina Kirchner.
Sabbatella explicou que o Estado "agirá" definindo as empresas que caberão a cada grupo empresarial que não limitar seus negócios até o próximo dia 7 de dezembro (batizado de 7D pela imprensa local).
"Até
o dia 7 de dezembro será o titular do grupo empresarial quem vai decidir as
empresas que serão transferidas ou colocadas à venda. Depois desse prazo, vamos
abrir um processo para a taxação (das licenças) no Tribunal Nacional de
Taxação", disse.
"Obviamente
que não queremos prejudicar ninguém e por isso vamos escolher as licenças de
maior rendimento econômico para que fiquem com seus donos originais e vamos
licitar as demais", acrescentou.
Ele
disse que as licitações incluirão "os bens" das empresas que o Estado
escolherá para serem licitados.
"Os
grupos de mídia têm até o dia 7 para apresentar (à Afsca) seus planos de
adaptação à lei. Os que não o fizerem, teremos de agir para que a lei seja
cumprida", disse.
Sabbatella
afirmou ainda que o dinheiro arrecadado com a liquidação das empresas será
depositado na conta dos que passarão a ser antigos proprietários das
companhias.
"Os
meios de comunicação que irão à licitação terão um preço mínimo e vamos deixar
com os donos (originais) os bens de maior valor ou de valor simbólico. Queremos
causar o menor prejuízo possível (aos donos)", explicou.
Empregos
Quando
perguntado sobre os postos de trabalho das empresas que serão licitadas,
Sabbatella respondeu que conversou com os sindicatos dos trabalhadores do setor
para "que estejam atentos para garantir a continuidade" dos empregos.
Ele
também afirmou que a empresa deverá ser responsável pelo pagamento dos
salários, entre outras obrigações trabalhistas, até que o negócio seja
totalmente transferido para o novo dono.
Sabbatella
disse, ainda, que a lei estabelece, por exemplo, que nenhum grupo pode ter mais
que três licenças em uma mesma cidade. "O Grupo Clarín supera esta cota em
37 cidades", afirmou.
Já
o Grupo Uno, disse, tem mais de três sinais em sete cidades.
Com
um mapa dos principais meios de comunicação ao fundo, Sabbatella afirmou que a
lei estabelece, por exemplo, até 35% de clientes ou população alcançada para o
setor de televisão a cabo ou televisão aberta. Os que superam esta margem, como
o Clarín, disse devem "se adaptar" à regra.
Segundo
ele, o grupo Clarín seria o "único" que "não aceita a lei"
e que "não apresentará plano de adaptação" à norma.
Em
uma entrevista recente a correspondentes estrangeiros, a direção do Grupo
Clarín afirmou que dois artigos da lei, questionados pela empresa, estariam
suspensos na Justiça e que, para juristas, "nada aconteceria com a
empresa" no dia 7 de dezembro.
Grupo Clarín seria o mais afetado pela nova lei
Para
o deputado opositor Ricardo Alfonsín, da UCR, a expectativa era de que, ao
final do prazo, a Suprema Corte de Justiça se “pronunciasse sobre os dois
artigos questionados pelo Clarín e não que a lei já entrasse em vigor”.
Além
do Grupo Clarín, Sabbatella disse que outros conglomerados também deverão apresentar
planos de adaptação à lei tanto nas áreas de licenças e alcances de rádio e de
televisão, de sinal aberto ou a cabo.
Ele
acrescentou que no caso de grupos que transmitem sinais de televisão através de
satélites, o controle deverá ser pela fatia de mercado.
Quando
perguntado sobre situação de empresas de capital estrangeiro que com uma
licença chegam a mais localidades do que o permitido pela lei, Sabbatella
respondeu: "É uma questão técnica e não teremos como controlar isso. Mas
uma empresa de satélite de televisão não poderá ter outro negócio, como
determina a lei", disse.”
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