“Texto do diretor Eurípedes Alcântara é
ambíguo; ao dizer que jornalistas correm riscos quando publicam grampos
ilegais, pode deixar implícita a mensagem de que Policarpo Júnior foi
abandonado; reflexão é longa, mas evasiva
Brasil 247
Em resumo, o argumento de Veja se baseia nos seguintes pontos: (1) maus cidadãos podem prestar boas informações, (2) o que define a publicação ou não é o interesse público e (3) grampos ilegais só devem ser publicados se o prejuízo social, com a não publicação, for maior.
Veja está sob ataque porque já ficou demonstrada a relação íntima da revista com o contraventor. Numa gravação, Carlos Cachoeira se vangloria de ter demitido um diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot. “Colocamos no r... dele”. Em entrevista, Pagot fala que a reportagem saiu depois que ele tentou questionar a má qualidade e os altos custos da Delta, sócia de Cachoeira.
Portanto, segundo o ex-diretor do Dnit, o interesse que motivou a reportagem de Veja foi eminentemente privado, não público.
Fator Policarpo
O ponto mais sensível diz respeito à publicação de grampos ilegais. E Veja fez uso, nos últimos anos, de vários filmes e grampos ilegais produzidos por Cachoeira. Eis um trecho do texto de Eurípedes:
“Quem se favorece conscientemente do
produto de furtos, roubos ou outros crimes é potencialmente cúmplice do autor. Por
essa razão, o jornalista que eventualmente receber uma gravação obtida
ilegalmente e usá-la em uma reportagem pode estar se expondo aos rigores da
lei. Por essa razão, ele só deve dar esse passo arriscado quando o custo para a
sociedade de desprezar o conteúdo da gravação for muito grande. Se o preço
pessoal de evitar um crime ou uma sequência de crimes, dando publicidade a
gravações ilegais, for incorrer em uma transgressão menor, o jornalista tem o
dever de considerar correr esse risco. Em VEJA, casos assim jamais são
decididos individualmente por um jornalista, mas pela direção da revista.”
Foto: Henrique Gualtieri/Divulgação
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