A imprensa ignora o Brasil

Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa

“Já se passou mais de uma semana da divulgação, pela Fundação Getúlio Vargas, da pesquisa sobre a mobilidade social no Brasil. As conclusões são interessantes e deveriam estar inspirando debates muito mais ricos do que tem sido admitido pela imprensa sobre o nosso modelo econômico e as chances brasileiras diante da crise mundial.

Aliás, uma leitura cuidadosa do estudo autoriza a jogar no lixo muita coisa que se tem publicado ultimamente sobre macroeconomia, crise, programas de inclusão social e alguns outros temas muito em voga.

A principal constatação do trabalho da Fundação Getúlio Vargas revela que a crise financeira internacional vem atingindo com mais força as classes de renda A e B do que a classe média e os mais pobres. O indicador desse fenômeno é a mobilidade social: tomados proporcionalmente ao seu peso no total da população, os indivíduos das classes de renda privilegiadas correm mais risco de cair para uma faixa de renda inferior, enquanto os mais pobres continuam ascendendo às classes médias.

Jornalistas distraídos

A explicação oferecida pelos coordenadores do estudo é que as pessoas com renda mais alta estão mais vinculadas aos setores impactados mais fortemente pela crise, como as exportações, os setores financeiro e imobiliário. As dificuldades desses setores não afetam tanto a maioria de classe média porque são menos importantes no Brasil em termos de geração de emprego e de indicadores de renda do que em outros países.
No extremo inferior da pirâmide social, as classes D e E também estão encolhendo, com maior número de famílias ascendendo à classe C. A informação é de extrema relevância e alguns analistas estranham o fato de que a imprensa não tenha manifestado maior interesse pelo assunto.”
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Comentários

Anônimo disse…
vamos fazer um esforço mental e especular porque não se falou disso ainda?
A "crise" atinge aos cartolas, que se ajeitam daqui e dalí (repassando o ônus ao trabalhador) e fortalece o argumento do exército de reserva: os desempregados e miseráveis que fazem a engrenagem rodar.
Se a imprensa for cobrir esse movimento vai ter que desnudar a crise ética por tras da pseudocrise financeira. Vai ter que dizer que tem gente demitindo a rodo com o caixa em rompante crescimento.
E, se constatar que o pobre não sofreu, vai ter que dizer que é porque há tempos que ele nem participa da festa. Porque, se todo mundo perder junto, nada mais justo que ganhar junto. Mantém-se tudo morno, como a imprensa preguiçosa quer e o patrão ordena.