por Fernando Brito, Tijolaço -
Tem-se de dar razão à experiente Helena Chagas que, em artigo n’Os Divergentes, diz que o Supremo Tribunal Federal abriu todo o espaço para os ataques que vem sofrendo.
Está certíssima, porque se há algo que uma Corte Suprema não pode fazer é ser dúbia.
Atitudes como a de Dias Toffoli, ao final do julgamento sobre a presunção da inocência, de dizer que “é assim que está na Constituição, nas se voc~es quiserem mudá-la, tudo bem”.
Agora, depois que o TRF-4 assumiu o esbulho possessório da autoridade do Supremo correr a fechar o julgamento e, provavelmente, acolher um recurso de Lula sobre a decisão usurpadora, isso pouco adiantará para a afirmação da necessária autoridade que o STF deve ter no país.
TRF 4 peita Supremo
Helena Chagas, n’Os divergentes
Não se pode
dizer que o STF não tenha culpa. Depois que pegou a mania de interromper
julgamentos polêmicos por falta de consenso para retomar depois –
sabe-se lá quando – o Supremo abriu espaço à incerteza jurídica e a atos
de desafio das instâncias inferiores. Foi o que se viu nesta quarta, no
TRF-4, no julgamento do recurso do ex-presidente Lula no caso do sítio
de Atibaia. A Corte regional, reconhecidamente ligada ao ex-juiz Sérgio
Moro e à turma da Lava Jato, resolveu aproveitar a oportunidade para uma
afirmação política — ainda que saiba que, mais à frente, terá sua sua
decisão reformada.
Rápido no
gatilho, o relator João Pedro Gebran mostrou estar ali para dar o troco
nos que vêm limitando decisões da Lava Jato. Além de pedir o aumento da
pena de Lula para 17 anos, recusou o pedido de anulação da sentença,
desconhecendo o entendimento do STF de dar ao réu delatado o direito de,
nas alegações finais, falar depois do delator. A decisão havia sido
tomada por maioria inequívoca pelo plenário do Supremo (7 x 3), e em
tese determina que as sentenças de quem pediu para falar depois dos
delatores — caso de Lula em Atibaia — seriam anuladas e o processo
refeito desde a primeira instância.
Lula pode
entrar com um HC no STF e anular a sentença de Atibaia? Pode, e é
provável que isso aconteça. Assim como não irá para a cadeia com a
confirmação de sua condenação pelo TRF-4 no caso de Atibaia porque, por
decisão do próprio STF, está revogado o princípio da prisão após a
condenação em segunda instância. Ao menos até o Congresso mexer no
assunto.
Mas, se a
questão política é Lula — sempre ele — a questão da Justiça atinge muito
mais réus delatados, nos mais diferentes casos, que vão além da Lava
Jato. E todos esses estão com a vida parada porque o STF, em meio a suas
brigas internas, não conseguiu encerrar um julgamento.
Depois da
constrangedora desautorização por parte do TRF 4, o Supremo anunciou que
vai concluir o julgamento sobre a ordem de defesa de delatores e
delatados ainda este ano. Ah, bom. Podia ter passado sem essa.
Comentários