Veja fala, mas não explica ligação com Cachoeira


Texto do diretor Eurípedes Alcântara é ambíguo; ao dizer que jornalistas correm riscos quando publicam grampos ilegais, pode deixar implícita a mensagem de que Policarpo Júnior foi abandonado; reflexão é longa, mas evasiva

Brasil 247

Prestes a ter seu diretor de sucursal em Brasília, Policarpo Júnior, e seu publisher, Roberto Civita, convocados por uma CPI, a revista Veja enfim se defendeu. Mas preferiu fazê-lo fora da revista. O texto, assinado por Eurípedes Alcântara, foi disponibilizado apenas na internet. E toca na questão que deve levar os editores de Veja ao Congresso: as relações da revista com fontes criminosas, mesmo sem citar o nome de Carlos Cachoeira.

Em resumo, o argumento de Veja se baseia nos seguintes pontos: (1) maus cidadãos podem prestar boas informações, (2) o que define a publicação ou não é o interesse público e (3) grampos ilegais só devem ser publicados se o prejuízo social, com a não publicação, for maior.

Veja está sob ataque porque já ficou demonstrada a relação íntima da revista com o contraventor. Numa gravação, Carlos Cachoeira se vangloria de ter demitido um diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot. “Colocamos no r... dele”. Em entrevista, Pagot fala que a reportagem saiu depois que ele tentou questionar a má qualidade e os altos custos da Delta, sócia de Cachoeira.

Portanto, segundo o ex-diretor do Dnit, o interesse que motivou a reportagem de Veja foi eminentemente privado, não público.

Fator Policarpo

O ponto mais sensível diz respeito à publicação de grampos ilegais. E Veja fez uso, nos últimos anos, de vários filmes e grampos ilegais produzidos por Cachoeira. Eis um trecho do texto de Eurípedes:

“Quem se favorece conscientemente do produto de furtos, roubos ou outros crimes é potencialmente cúmplice do autor. Por essa razão, o jornalista que eventualmente receber uma gravação obtida ilegalmente e usá-la em uma reportagem pode estar se expondo aos rigores da lei. Por essa razão, ele só deve dar esse passo arriscado quando o custo para a sociedade de desprezar o conteúdo da gravação for muito grande. Se o preço pessoal de evitar um crime ou uma sequência de crimes, dando publicidade a gravações ilegais, for incorrer em uma transgressão menor, o jornalista tem o dever de considerar correr esse risco. Em VEJA, casos assim jamais são decididos individualmente por um jornalista, mas pela direção da revista.”
Foto: Henrique Gualtieri/Divulgação
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