Caos da vacina é culpa de Bolsonaro. Mas quem vai detê-lo? Nota de repúdio?


 por Leonardo Sakamoto, UOL -

Jair Bolsonaro nunca deve ter perdido uma noite de sono por contas dos milhares de brasileiros mortos por covid-19. Como ele mesmo diz: "lamento os mortos, mas é o destino de todo mundo". Chamá-lo de "assassino" ou de "genocida", por mais pertinente que seja, não deve provocar no presidente uma mísera ruga de preocupação. Pelo contrário, é provável que celebre o fato por ajudá-lo a se manter nos holofotes.

Depois que o Datafolha afirmou, no domingo (13), que 52% da população crê que ele não tem culpa nenhuma pelas mortes na pandemia, o presidente se sentiu ainda mais à vontade para mostrar que, se pessoas vivem ou morrem, é problema delas.

Ou seja, o povo pode até contrair um cruzamento de ebola e varíola, contanto que ele não seja apeado do poder, que o caminho para a sua reeleição continue sendo pavimentado, que seus filhos não se tornem réus, nem sejam condenados, por imóveis e chocotes, e que Fabrício Queiroz, o amigão que, segundo o próprio presidente, paga as contas dele, não vá para a cadeia - de novo.

Grupos de WhatsApp de assessores de ministérios, por exemplo, celebraram como se fosse gol em final de Copa do Mundo o resultado do Datafolha - que ainda apontou estabilidade na aprovação de Bolsonaro, em 37%.

Com a percepção de que tinha um salvo-conduto, ele aglomerou centenas de trabalhadores no Ceagesp para um comício, enquanto a pandemia escala em São Paulo; deu entrevista dizendo que não irá tomar a vacina contra a covid, reforçando o exemplo negativo; transformou a questão da vacinação, que pode salvar vidas, em uma guerra política com seu arquirrival eleitoral, o governador João Doria. Que, aliás, deve explicações sobre a razão da demora na divulgação dos resultados dos testes da fase 3 da Coronavac.

O medo de Bolsonaro é que a economia volte a fechar se a pandemia crescer e tornar insustentável este ensaio de retorno à vida coletiva. E tenha que se virar para continuar pagando auxílio emergencial (são mais de 65 milhões de pessoas). Além das dificuldades para gerar empregos de qualidade. Na cabeça dele, 182 mil mortos é pouco se estamos falanos de 14,1 milhões de desempregados.

A questão é que negar a se vacinar, bombar aglomerações, chamar quem tem medo de morrer de covid de "maricas" ajuda a mobilizar os seguidores fanáticos e a garantir que a mídia dê cobertura, por um lado, mas também a estender demasiadamente a duração da pandemia, por outro.

É, portanto, ele e não os prefeitos e governadores que respeitam quarentenas, o responsável por alongar a covid no Brasil. A pandemia poderia ter tido um primeiro ciclo mais curto, caso houvesse articulação nacional para a adoção de isolamento social. Ao invés disso, tivemos terraplanismo biológico, negacionismo e irresponsabilidade de Bolsonaro. Com isso, empregos e negócios sofreram.

O Ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que ostenta um arremedo de plano de vacinação, reúne elementos para passar por um impeachment. Mas dificilmente o procurador-geral da República, Augusto Aras, levaria isso adiante. Sem contar que, de onde brotou Pazuello, tem muita coisa ainda para assustar e chocar.

O presidente também poderia ser alvo de um processo de impeachment. Razão ligada à pandemia, tem de sobra. Mas o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, não permitiu que nenhum dos pedidos prosperasse sob a justificativa de que o Congresso tem que se focar na covid.

O problema é que o não-afastamento de Bolsonaro é que impede o Brasil de se focar na covid como deveria.

Quase 22% não querem se vacinar, segundo o Datafolha, e Bolsonaro tem responsabilidade nisso, ao pregar a dúvida sobre a eficácia e a segurança dos imunizantes. Os outros 73% que querem ser imunizados não podem porque o governo tem sido irresponsável para a aquisição de vacinas.

É óbvio que o que ele está fazendo com a saúde pública durante a covid é criminoso. Mas quem vai pará-lo? Notas de repúdio?

Jair Bolsonaro nunca deve ter perdido uma noite de sono por contas dos milhares de brasileiros mortos por covid-19. Como ele mesmo diz: "lamento os mortos, mas é o destino de todo mundo". Chamá-lo de "assassino" ou de "genocida", por mais pertinente que seja, não deve provocar no presidente uma mísera ruga de preocupação. Pelo contrário, é provável que celebre o fato por ajudá-lo a se manter nos holofotes. Depois que o Datafolha afirmou, no domingo (13), que 52% da população crê que ele não tem culpa nenhuma pelas mortes na pandemia, o presidente se sentiu ainda mais à vontade para mostrar que, se pessoas vivem ou morrem, é problema delas.... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2020/12/16/caos-da-vacina-e-culpa-de-bolsonaro-mas-quem-vai-dete-lo-nota-de-repudio.htm?utm_source=twitter&utm_medium=social-media&utm_content=geral&utm_campaign=noticias&cmpid=copiaecola

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