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Em seu perfil no Twitter, Felipe Neto se diz "lacrador", "insuportável" e "alguém que só fala o óbvio". E arremata: "Siga em frente e enfrente".
Enfrentar parece ser o que ele decidiu fazer nos últimos tempos, denunciando não só as notícias falsas e o discurso de ódio do qual tem sido alvo desde 2018 - e que explodiram nas últimas semanas -, como também acusando de haver um esquema por trás desses ataques.
A articulação bolsonarista no WhatsApp e no Telegram está "mais forte e muito mais capilarizada" do que nas eleições de 2018, diz em entrevista à BBC News Brasil o influenciador, empresário e roteirista de 32 anos e 63 milhões de seguidores somados no YouTube, Twitter e Instagram.
"Eles tiveram tempo para otimizar e aperfeiçoar a prática, principalmente na organização de lideranças de novos grupos. A cada dia que passa, eles evoluem o esquema", diz ele por e-mail.
"Na época das eleições, eles ainda precisavam usar muitos bots para viralizar hashtags, por exemplo. Hoje, basta um grupo do topo da pirâmide mandar subir uma hashtag e, em menos de 5 minutos depois, ela terá milhares de tweets, todos feitos por pessoas reais."
Mas o que seria a "pirâmide" à qual o influenciador se refere?
É assim que a organização desses ataques virtuais funciona, diz ele. "Existem grupos de WhatsApp comandados por pessoas próximas ao topo da pirâmide da articulação do ódio. Esses grupos podem ter até 256 pessoas e cada uma delas é instruída a liderar ou fazer parte de vários outros grupos de 'escalão inferior'. Os grupos do topo criam os memes, prints falsos, notícias falsas, decidem como destruir a reputação dos adversários."
Em seguida, afirma, os integrantes desses grupos "do topo" são instruídos a compartilhar o conteúdo em todos os outros grupos. "Nisso cria-se uma pirâmide de grupos, em que cada grupo pode ter 256 integrantes e cada um desses integrantes pode criar um novo grupo com 256 integrantes."
"Isso vai escalando até chegar nos grupos abertos ao público, que são criados para captar novos 'fiéis'. Nessa chuva de compartilhamentos, eles enviam as instruções de quem atacar, mas manipulando a massa, fazendo as pessoas acreditarem que estão mesmo 'lutando pelo bem'", diz à BBC News Brasil.
O presidente e seus apoiadores sempre negaram que houvesse qualquer rede organizada pró-Bolsonaro para disseminar conteúdo falso.
No Brasil, é comum que o WhatsApp seja usado também como uma espécie de rede social, com pessoas de todo o país reunidas em grupos abertos e presentes ali porque receberam links em outras redes sociais ou convites por meio de outros grupos. E há grupos de todos os tipos: religião, futebol, paquera e, claro, política.
Nas eleições de 2018, uma dos grandes espaços de articulação de apoiadores de Jair Bolsonaro foi o WhatsApp, onde o então candidato formou uma base. Havia centenas de grupos bolsonaristas no aplicativo de mensagens, enquanto o número de grupos da oposição era muito menor. E o espaço foi repleto de notícias falsas.
De acordo com um levantamento da agência de checagens Lupa, só 4 das 50 imagens mais compartilhadas em 347 grupos públicos de discussão política no WhatsApp monitorados pelo projeto Eleições Sem Fake, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), eram verdadeiras.
Nesse contexto, já existiam campanhas pedindo para integrantes de grupos agirem maliciosamente em outras redes sociais, funcionando como um exército contra personalidades ligadas ao campo político opositor, como já aconteceu com Felipe.
Um exemplo: em 2018, circularam em grupos bolsonaristas links de vídeos no YouTube de cantores que aderiram à campanha "Ele Não", contra Bolsonaro, como a cantora Daniela Mercury. Os links vinham acompanhados de uma mensagem explicando a "campanha de deslike", ou seja, pedindo para usuários clicarem no link e descurtirem o vídeo.
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