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E, nesse lusco-fusco desesperador, o Congresso apoia o novo Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica) um passo gigantesco em direção ao futuro, em um país que só cultua o atraso.
Eliana Brum, como sempre, produziu uma síntese magistral sobre a burrice brasileira. Burros são os que aprovam Bolsonaro, por uma questão de sobrevivência, pelos 600 reais, ou a inteligenzia brasileira, as instituições que caçoam do terraplanismo, mas são incapazes de interromper a marcha inexorável da insensatez?
Passadas as reações pungentes despertadas pela pandemia, as demonstrações de humanidade, o discurso de “como somos sensíveis e solidários”, gradativamente o país institucional retorna ao velho normal.
Monta-se uma campanha articulada contra o funcionalismo público. Divulgam estatísticas sobre os cargos mais bem remunerado e escondem-se os cargos de baixíssima remuneração – em geral, aqueles em atividades fim. Quando alguém lembra a base da pirâmide, vem o argumento recorrente: para melhorar a base precisamos tirar os privilégios da elite. Mas a proposta não é de redistribuir o orçamento, mas de reduzir os gastos sociais.
A democracia terá que afundar mais ainda, a barbárie terá que entrar casa adentro da classe média, Bolsonaro terá que partir para o golpe final para se acordar desse pesadelo secular que transformou a sociedade institucional brasileira em uma das mais iníquas do mundo.
A hipocrisia grassa em todos os cantos.
O Conselho Nacional do Ministério Público condena verbalmente Deltan Dallagnol e convalida a prescrição das acusações de que é alvo. O relator do processo afirma que a própria acusação pediu a suspensão de parte das acusações, o advogado acusador pede a palavra, diz que a afirmação é falsa, e o presidente do Conselho diz que não é relevante, porque não diz respeito à prescrição. Ou seja, não é relevante o relator do processo ter sido acusado por uma parte de mentir sobre uma afirmação pública.
Cria-se um enorme trololó sobre o direito das partes, mas o essencial já está definido. O relator critica um sujeito genérico, que permitiu que o caso ficasse parado por meses e meses, e ninguém sai em defesa do sujeito genérico porque, por genérico, não pode ser responsabilizado. E ninguém sai em defesa do CNMP porque o CNMP é assim mesmo.
No Supremo Tribunal Federal (STF), a principal âncora democrática, Ministro Gilmar Mendes, concede prisão domiciliar para uma foragida da Justiça, para que possa cuidar do marido. Provavelmente, reconhecerá, agora, foro especial para Flávio Bolsonaro, depois do próprio STF ter acabado com o foro especial.
Enquanto isto, Luiz Fux, Celso de Mello, provavelmente Luiz Edson Fachin continuarão avalizando todos os abusos da Lava Jato, no passado recente, para que sirvam de exemplo para a reiteração dos abusos no presente imediato e no futuro.
Sob esse novo-velho sistema, nas ruas, a Polícia Federal volta a convocar a mídia, invadir casas, prender pessoas sem que se conheça sequer as justificativas do Ministério Público e a sentença do juiz. Como sempre, aceitam-se passivamente todos os abusos, condenam-se antecipadamente todos os detidos, na presunção de que procurador, juiz e delegado não erram. Mesmo depois que a Vazajato comprovou que não apenas erram, mas manipulam intencionalmente para ganhar mídia e poder. E a mídia aceita porque o show deve continuar e há o precedente garantindo a absolvição futura de todos os abusos.
A PF faz seu trabalho de dia e, no escurinho do cinema, cumpre as ordens de Bolsonaro para ampliar a venda descontrolada de armamentos e invadir as residência de governadores que incomodam.
Por seu lado, as Forças Armadas convalidam a importação indiscriminada de armas, ganham uma fatia do orçamento maior que a da Saúde, e saem gastando adquirindo um satélite que, segundo todos os especialistas, fará menos e pior do que os satélites do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). E a compra é defendida pelo general vice-presidente, sob o argumento da necessidade da autonomia espacial brasileira. Troca uma tecnologia do INPE, mundialmente reconhecida, por um satélite próprio para prospectar neve nos pólos, e o faz em nome da excelsa soberania tecnológica nacional. E, como o dinheiro não dá em árvore, Paulo Guedes propõe acabar coma farmácia popular para economizar à custa da saude dos necessitados.
No front político, emerge a figura funambulesca de Michel Temer, o homem que se especializou em comandar o banquete dos mendigos políticos do baixo clero. Aliás, nem comandar, comandava. Era apenas o intermediário das ordens de Eduardo Cunha. Justo o presidente gravado indicando um assessor para um encontro com lobistas, do qual sai com uma sacola com 500 mil dólares. No novo Brasil, no novo pacto liberal, ressurge como estadista, saudado por colegas de Brasilia por sua elegância, verve, pela esposa, pelos poemas, pela elegância discreta. Provavelmente a sacola do assessor, carregando dinheiro, era de marca. E, como ele entregou o que prometeu – o início do desmonte das redes sociais brasileiras -, merece a narrativa salvadora de que a gravação da JBS não indicava nada. Nem a filmagem da sacola com os 500 mil dólares carregados pelo sujeito que ele indicou para a reunião.
Temer, Moreira Franco, Eliseu Padilha voltam triunfantes, absolvidos de todos os pecados, ressuscitados na imagem pública de Rodrigo Maia. E o coral institucional brasileiro tece loas ao novo presidente, o novo Bolsonaro moderado, civilizado, e dá um desconto quando ele ameaça cobrir de porradas um repórter e chama outros de bundões. É apenas um excêntrico que tem a compulsão da morte.
Na ponta oposta, uma oposição desconjuntada, sem discurso, sem estratégias. De um lado, a aposta cega em um factoide de nome Luciano Huck; de outro, a fantasia reiterada de que os bons tempos voltarão com dom Sebastião descendo numa carruagem enferrujada pois, como foi injustiçado, a justiça prevalecerá. Lembra Dilma Rousseff apoiando o início da Lava Jato pois, como era apenas contra os corruptos, ela, Dilma, seria poupada. E, nas duas pontas, lideranças assustadas, fechando as portas para o novo que não consegue nunca se realizar.
A caminhada em direção ao arbítrio acelerou hoje, quando o OEA, po pressão do Brasil, desautorizou a recondução e Palo Abrahão à Comissão Intermaericana de Diretos Humanos.
E, nesse lusco-fusco desesperador, o Congresso apoia o novo Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica) um passo gigantesco em direção ao futuro, em um país que só cultua o atraso.
É um país desolador, mas surpreendente. Um gigante caído, sendo atacado por figuras liliputianas e das profundezas. Mas que resiste.
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