Responsabilidade é o único remédio contra o pânico


por Fernando Brito, Tijolaço -

Os leitores e leitoras deste blog sabem que, aqui, jamais se subestimou a importância da pandemia do novo coronavírus, e isso desde que ela dava seus primeiros passos, em janeiro.

Aqui, ela nunca foi “fantasia” (Bolsonaro) ou algo que “não mata tanto” (Trump).

Aqueles que desprezam a humanidade em sua politicagem vão assim, da negação ao espalhafato em dois dias.

Oscilam, como as bolsas, na especulação do que lhes dá mais lucros políticos.

Cortaram o que podiam e o que não podiam cortar nos gastos sociais, saúde entre eles, prometendo o céu e nos deixaram ás portas do inferno em despreparo para uma emergência sanitária que negaram enquanto puderam.

Aqui e também na “matriz” – vejam o cenário dantesco previsto no NY Times – onde se achavam invulneráveis.

Ninguém é, no mundo globalizado, goste-se ou não disso.

Nem a economia, porque ela é, afinal, obra de gente, relação entre pessoas, não entre computadores, que são meio.

Mas, exceção à China, onde um longo feriado (o ano novo deles) ajudou a implantar medidas de bloqueio e paralisação quase total das atividades não-essenciais, com fortíssima ação direta dos governos locais e central, os países decidiram parar aquilo que só muito de leve mexia no mundo do dinheiro, as escolas.

Necessário, por certo, mas insuficiente.

Onde mais você viu – salvo uma ou outra coreana – fecharem-se fábricas para evitar contágio?
Deus Vult, o “Deus quer” das cruzadas que os nossos fanáticos de extrema direita ressuscitaram, bem poderia ser agora trauzido em Pecunia Vult, “o dinheiro quer”.

Apelaram ao teletrabalho, o que é útil, mas inacessível aos trabalhadores em geral, que continuaram circulando compulsoriamente e se expondo à disseminação rápida do vírus. Isolar-se não era opção, pois custaria o emprego. Para muitos, aliás, custará, porque a retração da economia é inevitável e, agora se vê, por tempo extenso.

O que a Folha retrata, com alarmismo, em sua capa de hoje está se reproduzindo nas áreas de classe média, com prateleiras vazias e mercados cheios.

Por experiência própria, sabemos a quem serve a histeria.

Falta-nos, no momento em que mais precisamos, o Estado que se demonizou: o Estado regulador, o Estado provedor, o Estado capaz de se antepor ao tsunami e quebrar o impacto e uma onda terrível.
Ainda há tempo de evitar, embora improvável, uma catástrofe, porque temos uma rede pública de saúde capilarizada (mesmo com o desfalque do Mais Médicos) embora deficientemente equipadas de leitos intensivos – não-intensivos se pode improvisar, se houver pessoal) e de equipamentos de ventilação assistida que, demoram a chegar, se os comprarem.

Infelizmente penso que não será assim.

Não é a hora de uma “DR” entre o Estado e os agentes econômicos, numa reforma tributária, e nem de comprometer seu funcionamento com a administrativa. Muito menos de seguirmos agarrados a um “teto de gastos” quando se precisa gastar para que as pessoas tenham saúde e trabalho.

É hora, sim, de o Estado intervir sobre o domínio econômico, regular seu funcionamento na escala menos comprometedora para a atividade produtiva, que faz pessoas circularem e se expor.

Ou, então, transferiremos a selvageria dos mercados para os mercadinhos, onde quem pegar pegou e se faltar, ‘danou-se”.

Isto é, morreu.

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