Na guerra ao Covid19, a humanidade está de um lado e Bolsonaro de outro

(Foto: Alan Santos - PR)

"Sem apontar qualquer saída para a saúde dos brasileiros, Bolsonaro corteja pandemia do século XXI", escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

Via Brasil 247 -

Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia - Ninguém precisa de formação médica para reconhecer o  caráter nocivo da atuação de Jair Bolsonaro  diante da mobilização cada vez maior  da sociedade brasileira para enfrentar a pandemia do novo coronavírus.

Enquanto  o país procura construir uma plataforma comum para dar conta de uma ameaça que se dirige ao conjunto da espécie humana, Bolsonaro faz o possível para priorizar diferenças ideológicas e reforçar, sem necessidade objetiva,  um ambiente de polarização e rivalidades que marca a sociedade brasileira em tempos recentes.  

Além dos aspectos médicos, condenáveis por si, o ponto grave dessa atuação é enfraquecer um esforço que envolve uma das mais desafiadoras epopeias das relações entre a humanidade e a natureza em todas as épocas da evolução.

Neste início do  século XXI, de fato, a prioridade é empregar todos os meios ao alcance do conhecimento humano para interromper, no prazo mais breve possível, um processo gigantesco de contaminação em escala planetária, que ameaça o bem estar de homens e mulheres sem distinção, além de colocar em risco  a sobrevivência da parcela menos protegida e resistente da espécie.  Viver ou morrer: simples assim.

Numa situação como esta, não há tempo a perder nem energias a desperdiçar.

Não por acaso, uma provocação irresponsável, como a  aparição de Bolsonaro nas fracassadas manifestações pró-ditadura  de domingo, já cobrou seu preço, nas críticas de parcela da mesma elite que tanto contribuiu para sua chegada ao poder, como sublinham crescentes manifestações a favor do impeachment, mas não só.

Um editorial do Estado de S. Paulo (17/3/2019) afirma:" O presidente foi tão gritantemente irresponsável que custa a crer que não soubesse o que fazia. E, se sabia, o fez de caso pensado: para ele, a saúde dos brasileiros é irrelevante, bem como os impactos e sociais tremendos da quarentena a que o país começa a ser submetido parara tentar frear a ameaça do Covid-19. A única coisa que interessa a Jair Bolsonaro é seu projeto de poder".

Aprendiz de ditador, em perpétuo movimento para acumular poder, Bolsonaro mostra uma vocação particular, típica de  aprendiz de feiticeiro, aquele personagem celebrizado por Walt Disney, que era incapaz de dominar os truques da própria magia.

Seu esforço jamais interrompido para diminuir a gravidade do Covid-19 não envolve uma questão de opinião ou debate científico, mas puros interesses milionários que sustentam preconceitos ideológicos que marcam a história da medicina.

A criação do SUS, na Constituinte de 1988, foi uma vitória da bancada liderada por um parlamentar comunista, Sérgio Arouca (1941-2003), que abriu um novo período na medicina do país. A partir de então, a saúde pública ganhou uma prioridade jamais vista, projetando um atendimento voltado às grandes parcelas da população, em vez de privilegiar doutores remunerados pela capacidade de atrair clientes endinheirados para  consultórios privados.

Comprometido por interesses que há quatro décadas se mobilizam para reverter os avanços da medicina em direção das necessidades da maioria, Bolsonaro é uma garantia permanente de novos conflitos e impasses na guerra da humanidade contra o Covid-19.

Os adversários do SUS já tem uma bandeira que, como sempre, envolve uma mudança na Constituição. Trata-se, aqui, de derrubar o artigo 196, que define a saúde como " um direito de todos, um dever do Estado".

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