“Weltschmerz”: a dor e o cansaço do mundo nesta passagem de ano


por Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho -

Esse palavrão cheio de consoantes aí do título só podia ser alemão.

Não é frescura, mas como foi minha primeira língua, sempre recorro a ela quando não consigo dizer o que sinto em português, como acontece neste último dia do terrivelmente horroroso ano de 2019.

Nada do que li até agora nos comentários, em todas as mídias, sobre esse ano que passou, poderia resumir melhor o que me vai pela alma de filho da guerra, sobrevivente que veio para o Brasil de navio na barriga da mãe.

A palavra “Weltschmerz” só poderia mesmo ter surgido na Alemanha, um país que sobreviveu às duas Grandes Guerras e ao nazismo.

Não por acaso, essa época em que o mundo quase acabou na primeira metade do século passado, pelas mãos de um maluco de pedra, tem sido muito lembrada no Brasil dos dias atuais.

Fui pesquisar um pouco para entender melhor o significado desse termo cunhado pelo autor alemão Jean Paul Richter na obra Selina, para denotar o tipo de sentimento experimentado por alguém que entende que a realidade física nunca poderá satisfazer às exigências da mente.

No Dicionário de Termos Literários, Isabel Soares escreveu, dez anos atrás _ antes, portanto, do advento do bolsonarismo _ que “Weltschmerz” resume o “sentimento de melancolia e dúvida a respeito do sentido do mundo e da vida, resultante da contemplação da insensatez e do absurdo do Ser. É particularmente evidente na literatura e mitologia germânicas”.

Dor de mundo ou cansaço do mundo, segundo a Wikipédia, o significado moderno de “Weltschmerz” na língua alemã é a dor psicológica causada pela tristeza que pode ocorrer quando  se percebe que as próprias fraquezas de alguém são causadas “pela inadequação e crueldade do mundo e as suas circunstâncias físicas e sociais”.

Também pode ser comparado com o conceito de anomia, ou uma espécie de alienação, que Émile Durkheim descreveu em seu tratado sociológico “O Suicídio”.

Pois já precisei usar várias vezes aqui neste espaço a expressão “anomia social” para significar o momento que o Brasil vive, desta terra de ninguém, em que cada um faz as suas próprias leis e verdades, completamente sem parâmetros nem referências, jogado ao deus-dará da demência e da alienação.

Isabel Soares lembra que toda essa literatura de Byron, Musset, Lanau, Büchner e tantos outros, da qual não se pode alhear Kafka, que acusam o tédio da vida e a náusea do mundo, “sentimentos que varrem a Europa Romântica, desaguando nas correntes filosóficas niilistas de Schopenhauer (…) mostra ameaçadora e alarmantemente a naturalidade do Pessimismo, da agonia e da dor do mundo. É o Pessimismo na sua forma mais pura que desembocará no Existencialismo de Jean Paul Sartre, no século 20.

“Devem ser todos comunistas!”, certamente reagiria um desses oferecidos “filósofos” de plantão do bolsonarismo galopante, dando o assunto por encerrado.

Feliz 2020!, se deixarem, e se for possível.

Vida que segue.

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