por Fernando Brito, Tijolaço -
A crise no Oriente Médio não vai ser um surto.
Deve haver, sim, um pico imediato, mas será o prenúncio de uma temporada de mar encapelado.
Quem quiser imaginar os iranianos como um bando e fanáticos, que vão lançar um míssil sobre algum alvo e darem-se por satisfeitos, está redondamente enganado.
É claro que haverá ações armadas, mas isso será o menos importante.
Sem excluir que bombas possam ( e vão) explodir aqui e ali, até porque o nível e tensão é alto e mantê-lo assim ajuda a retaliação aos norte-americanos, porque é impraticável a Donald Trump ir além da “guerra e joysticks”e colocar tropas em grande escala em terreno hostil como o Iraque ou o próprio Irã. O 3,5 mil soldados enviados desde Fort Bragg não são absolutamente nada, apenas pessoal basicamente estacado para proteger plantas e petróleo.
Os iranianos estão considerando o fato de terem obtido apoio em escala global. Os chanceleres da Rússia, Serguei Lavrov, e a China, Wang Yi, emitiram hoje nota conjunta condenando “o uso da força em violação à Carta da ONU” e falando em tomar “medidas conjuntas” para evitar uma escalada bélica. A Europa também e recusou a subscrever as ações de Trump e o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo revelou publicamente seu desapontamento com a reação europeia.
Portanto, a arma mais importante de retaliação será manter o sobressalto e a intranquilidade no mundo do capital, de forma persistente, pela via da crise política.
E quanto a nós?
Nós? Nós entramos de gaiatos nessa crise, com um capitãozinho que não só não tem capacidade de manobrar com inteligência como tem como obrigação de, diante de sua tropa de lunáticos, brandir sua espadinha de madeira, proclamando-se valente.
Demonstrou isso já na sua primeira fala sobre a crise, excluindo completamente a hipótese de uma administração dos preços – a que chamou tabelamento – mesmo temporária.
Ora, permitir a transmissão imediata para os preços internos de um eventual pico no preço internacional causado por um ataque instalações petrolíferas é abrir a porta para um surto de reajustes que, para debelar depois é quase impossível.
Em seguida, chancelou uma nota do Itamaraty onde desconsiderou todos os avisos e alinhou-se ao Governo Trump, novamente sem nada em troca.
O que vai fazer na semana que vem ou na próxima se cenário não se desanuviar, afastando a nuvem negra que chegou rápido e tambou o sol do “agora vai” que nem tinha ido ainda?
Governantes se revelam nas crises, como comandantes nas tempestades.
E experiência não se vende no “Posto Ipiranga”.
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