por Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho -
“Derruba a Dilma e a Banânia vai ser o céu. Faz a reforma trabalhista e vai ser o paraíso. Elege o Bolsonaro e teremos o nirvana. Faz a reforma da Previdência, e faz a reforma tributária, e faz a reforma administrativa… e lá vai o pato, pato aqui, pato acolá. Viva Bolsonaro, viva Paulo Guedes, viva a Banânia!” (Vicente Oliveira, de Maceió, no Painel do Leitor da Folha).
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“Risco de efeito dominó”: o alerta foi dado nesta mesma edição de terça-feira por Daniela Lima, na abertura da sua coluna: “Em SP, as cúpulas das polícias Civil e Militar foram orientadas a monitorar convocações de atos de direita e de esquerda, especialmente na capital”.
É a primeira vez na grande mídia que este assunto reaparece:
Para os governadores à esquerda, porém, o maior fio desencapado do país não é político, mas econômico:
“É a perspectiva de uma recuperação muito lenta da economia, aliada à degradação das contas públicas, o que mais ameaça deflagrar insatisfações sociais”.
Mais dia, menos dia, isso acabaria acontecendo.
Esticaram demais a corda, cortaram direitos trabalhistas e previdenciários, o desemprego permanece acima de 12 milhões de trabalhadores e a maioria foi jogada na informalidade ou nas calçadas das grandes cidades.
Esse foi também o tema discutido no programa “Ricardão & Ricardinho”, que apresento junto com o jornalista Ricardo Carvalho, às segundas-feiras, a partir das 19 horas, no canal da AllTV no Youtube.
Até aqui, de fato, ele tem razão, mas o que vale para hoje pode não servir amanhã.
Tudo tem um limite.
Lembrei aquela história do cachorro bonzinho, que não se cansa de apanhar e levar ponta pés, até o dia em que resolve morder seus donos.
Até Bolsonaro já descobriu que a tropa de choque do modelo chileno pinochetista de Paulo Guedes foi longe demais, e resolveu dar uma recuada nas novas reformas neoliberais.
Não é de Lula que eles precisam ter medo, mas da legião de desempregados, indignados, desiludidos e desesperados, que não ganham nem para comer.
Lula apenas cataliza esses sentimentos, quando as pessoas comparam como eram suas vidas nos seus governos e como vivem agora.
Essa sensação de abandono pelos poderes públicos mobilizou multidões contra os governos do Chile, do Equador e da Argentina nos últimos meses.
Foi a degradação da vida dos mais pobres, vitimas do neoliberalismo, massacrados pelo mercado.
A exceção é a Bolívia, onde aconteceu o contrário, depois de um ciclo de crescimento econômico: lá foram as classes médias brancas e o empresariado que se insurgiram contra a população indígena defendida por Evo Morales.
Esses países agora estão pagando o preço dos abusos e das barbaridades cometidas contra os mais humildes para enriquecer ainda mais os mais ricos.
Paulo Guedes sabe disso, não é burro, mas se acha mais inteligente que todo mundo, na certeza de que, com ele, o ungido dos deuses da sabedoria, tudo vai dar certo, e o povo ficará quietinho no seu canto, de boca aberta, esperando a morte chegar.
Agora descobriram que isso poderá não ser para sempre, e fazem o que sabem para enfrentar as questões sociais: acionaram as polícias e os órgãos de segurança, como fizeram os nossos vizinhos, que já mataram dezenas de pessoas nas ruas.
Bolsonaro & Guedes deveriam ler a coluna “Boas intenções”, de Ranier Bragon, na Folha, que termina assim:
“Carteira Verde e Amarela, política de extermínio de sindicatos, de achatamento do salário mínimo, a revolução liberal no lombo dos trabalhadores segue encantando aqueles para quem nosso progresso depende apenas da evolução do Ibovespa”.
Vida que segue.
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