O “Lula Livre’ de Magnolli é sinal que Costa e Ciro deveriam entender


por Fernando Brito, Tijolaço -

Causou rebuliço o artigo do sociólogo – notoriamente antipetista e antilulista – Demétrio Magnoli, na Folha de hoje, pedindo que Lula seja libertado e submetido a um novo julgamento, diante das ilegalidades apontadas nos processos de Curitiba.

Lula livre, não por ele ou pelo PT, mas em defesa de um precioso bem público, de todos nós, ao qual tantos brasileiros pobres precisam ter acesso: o Estado de Direito. Que o ex-presidente seja processado novamente, segundo os ritos legais, e julgado por magistrados sem partido.

Evidente que não se pretende que ele mude seus pensamentos sobre Lula ou o PT. Chegamos a um ponto no Brasil que, com toda a sinceridade, a direita legalista – veja-se Reinaldo Azevedo – é muito mais importante para a democracia que certa soi-disant esquerda “de ressalvas”, que não compreende que a exclusão de Lula do processo político é e será, enquanto persistir, um bloqueio ao retorno do Brasil à normalidade.

Refiro-me aos que acham que acham que Lula, libertado, não possa ou não deva ser candidato à Presidência da República, como fazem Ciro Gomes, abertamente, e o governador Rui Costa, do PT baiano, de forma mais velada.

Não me cabe aqui dar conselhos ao PDT e ao PT: a vida interna dos partidos é reservada aos seus membros e eles são legítimos para tomarem suas decisões de forma autônoma. Muito menos em criticar quem deseje ser candidato.

Mas o processo social não é privilégio de partido político ou de ambições pessoais: é o terreno das massas, de seus sentimentos, símbolos, referências e esperanças.

Quando se frauda, mesmo involuntariamente, o curso natural deste processo, o resultado é um desastre, como foi um desastre não ter havido a volta de Lula ao governo em 2014. Isso custou caro ao Brasil e ao povo brasileiro.

Brizola, com as suas metáforas campesinas, dizia que eleição não é corrida de cavalos, onde se escolhe colocar o ginete na pista ou não, dependendo de como o páreo se apresente.

Candidatura popular é fruto do processo social e, depois de meia década em que Lula foi o alvo do mais intenso e cruel processo de destruição política das últimas décadas – que, aliás, não conseguiram consumar completamente – não há outro caminho natural senão o de sua candidatura a Presidente, se e quando ela voltar a ser juridicamente viável.

Porque politicamente ela jamais deixou de ser.

Ele é o símbolo, a referência, para voltar a citar Brizola, do “não rotundo” a tudo o que de golpista, policialesco, recessivo e excludente que se desenvolveu na política em nosso país.

Não é uma questão de preferi-lo, pessoalmente, de não enxergar erros e desvios no PT ou de considerar que se poderia, com outro nome, evitar incompreensões, superar frustrações ou agregar mais este ou aquele partido, embora tudo isso seja importante.

É que ele tem a carga de história, de povo, de entranhas e, até, de martírio que são capazes de galvanizar o sentimento popular.

Isso não é ser fiel a Lula, é ser fiel ao povo brasileiro nas suas camadas mais profundas.
Lula só não deve ser e não será candidato se de novo o impedirem ou se não tiver condições físicas para isso, embora a lenda sobre o unificador dos reinos da Espanha conte que El Cid Campeador, já morto, foi posto sobre um cavalo, com sua espada, e apenas ter a sua visão animou os defensores de Valência a expulsarem as tropas mouras.

Ou será que não compreendem o “cuidado” em prendê-lo antes do processo eleitoral, de proibirem-no de aparecer ao lado de Haddad e até de dar uma simples entrevista, tudo isso não foi decisivo no ano passado?

Pretender outras candidaturas no campo popular, embora seja direito de qualquer um, não corresponde ao processo social e, portanto, não deixa que o rumor subterrâneo que há na alma dos brasileiro brote com o vigor necessário.

E tenho muito mais identidade com os conservadores e liberais que o querem derrotar nas urnas o que daqueles que usam sua prisão e impedimento como artimanha para suas ambições eleitorais.

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