por Fernando Brito, Tijolaço -
O jornal argentino Pagina 12 publica hoje uma entrevista com o Lula, na qual o ex-presidente
– O que lhe dá forças para começar todos os dias?
– Primeiro, quero viver muito. Não
sei por que, mas acho que vou viver 120 anos, então alguém que vai viver
muito precisa ter muita força porque, caso contrário, a vida se
tornaria chata. E eu sei porque estou aqui. Estou aqui condenado por um
ex-juiz mentiroso (Sergio Moro); por um promotor mentiroso e desonesto
(Deltan Dallagnol) e por alguns comissários que me armavam com causas
mentirosas contra mim. Eu posso não estar aqui, eu poderia ter deixado o
Brasil. Mas vim aqui porque tenho quatro pessoas que sabem a verdade
sobre esses processos contra mim: eu, Deus, o juiz e os promotores. Eles
sabem que mentem. E Deus e eu sabemos que estou com a verdade. É por
isso que estou aqui. Estou aqui para provar minha inocência. Além disso,
eu provei minha inocência, o que eu quero é que eles provem minha
culpa. Quero e continuo esperando que alguém me culpe por alguma coisa.
Estou esperando mostrem um dólar ganho desonestamente na minha vida.
Na verdade, esse é o crime que cometi neste país, o de provar a uma
elite brasileira politicamente desonesta, que é possível que as pessoas
comam lombo e chouriço, que é possível que os pobres viajem para
Bariloche, para Buenos Aires , para Miami de avião, que é possível que
uma pessoa tenha uma casa, que seja possível que uma pessoa entre em uma
universidade, que é possível que uma pessoa vá para uma escola técnica e
que é possível que uma pessoa tenha acesso à cultura , à recreação, ao
teatro, ao cinema, a um restaurante. Esse foi o crime que cometi. Gerar
22 milhões de empregos em branco. Aumentar o salário mínimo em 75%.
Disponibilizar 52 milhões de hectares de terra para fazer a reforma
agrária. Fazer o maior programa de história nacional do Brasil e fazer
amizade com todos os países da América do Sul. Foi o momento de
cordialidade. Foi o momento em que não tivemos disputas. Foi o momento
em que sonhamos: Kirchner, Lula, Chávez, Rafael Correa, Tabaré, Pepe
Mujica e sonhamos em construir um forte bloco econômico,
tecnologicamente desenvolvido para poder promover a exportação de
produtos de valor agregado e não apenas de mercadorias.
– E o que aconteceu com esse sonho?
– E ainda tenho esse sonho e é por
isso que tenho força. Porque ainda quero estar vivo e quero ajudar a
derrotar todas essas pessoas más, que não gostam dos pobres, que apenas
governam para o mercado. Aqui no Brasil, há um ano, não se fala em
emprego, não se fala em salários, não se fala em renda. Fala-se apenas
de privatização e redução da máquina pública. Então, minha vontade de
lutar é como se eu tivesse 20 anos. Aqui e fora do país. E acho que eles
têm medo de me deixar ir, porque sabem que quando me deixam ir, vou
para a rua. Eu vou para a rua Eu quero ir até a porta da Rede Globo de
Televisão e negar. Há dez anos, ele conta mentiras sobre mim. Quero
fazer um debate com o canalha do juiz que me julgou e o promotor que me
acusou. Então é por isso que tenho força.
– Sua liberdade depende da justiça, você confia na justiça e nas instituições brasileiras em geral?
– Eu poderia fazer uma pergunta e é
uma pergunta que faço a mim mesmo todos os dias. No dia em que parar de
acreditar na justiça, fico imaginando o que vou fazer. Não é porque um
juiz tenha sido um canalha, não é porque um promotor tenha sido um
canalha, você deve julgar toda a justiça por causa desse erro. O
problema é que espero, com muita calma, que o Supremo Tribunal tome uma
decisão. Eu tenho dois habeas corpus que precisam votar. Há uma grande
pressão da imprensa brasileira, especialmente da Rede Globo de
Televisão, para que o Lula não saia da prisão. Porque o grande problema
da operação de Lava Jato é que ela deixou de ser uma operação de
investigação de corrupção e se tornou um partido político. Ou seja,
existe um pacto entre a mídia e a operação Lava-Jato. Todas as mentiras
que Lava-jato conta, Eles são realmente transformados na imprensa
brasileira. Nas três revistas nacionais, nos grandes jornais, a
Lava-Jato tinha um jornalista em cada jornal, em cada revista que
recebia preferencialmente as informações antes dos advogados de defesa. E
isso ainda continua. Vocês acompanham na Argentina as revelações do
blog Intercept, que descobriu tudo o que está podre na Lava jato. Para a
grande imprensa brasileira, não há Intercept. Nenhuma denúncia feita
por Glenn (Greenwald, jornalista da Intercept) é relatada na grande
imprensa. Agora, no domingo, houve uma denúncia muito séria das mentiras
dos promotores, do comissário de polícia, do juiz Moro, sobre o fato de
que eu aceitei ser ministro de Dilma. A mentira é a coisa mais séria
até agora e a Rede Globo não disse nada. A Record não disse nada. O SBT
não disse nada. Ou seja, a imprensa não consegue se destacar do
Lava-Jato porque, quando Lula é libertado, uma parte do Lava-Jato perde
credibilidade. Porque até agora eles só contavam mentiras. E estou com
muita sede, querendo, em liberdade, questionar a credibilidade dessas
pessoas. É por isso que acredito na justiça.
-O que você acha que estava errado se tivesse que fazer uma autocrítica à sua gestão? E o que consertaria isso?
– Aqui no Brasil tem algo na moda,
todo mundo quer que o PT faça uma autocrítica. É impressionante. Eles
governaram por 500 anos, o PT apenas 13 anos, apenas o PT fez mais do
que eles. Para se ter uma ideia, em oito anos de governo, fui o
presidente que criou mais universidades na história do Brasil. Colocamos
mais estudantes na universidade, em 12 anos, mais estudantes do que em
um século. Então, se eu tivesse que fazer uma autocrítica, olhava no
espelho e dizia: “Lula, por que você não fez mais? Por que você não
melhorou mais o salário das pessoas? Por que você não fez mais
universidades? Por que você não gerou mais empregos? Por que você não
fez mais pela reforma agrária? ”Essa era a autocrítica que eu faria.
Faça mais, mais e mais, porque só assim vamos criar um povo com um
padrão de vida decente.
– Como pode ser desmontada essa coalisão entre mídia e justiça para gerar tais golpes institucionais?
– Nunca fui almoçar ou tomar café da
manhã com o dono de um jornal, uma estação de televisão para pedir um
favor. A única coisa que quero e exijo é que elas existam para informar
bem a sociedade, para não mentir para você, para não mentir. E no Brasil
muitas mentiras foram construídas. Se você levar em consideração que as
principais notícias televisivas do Brasil, segundo pesquisa feita por
um professor da Universidade Federal de Minas Gerais, em pouco mais de
um ano, são 80 horas nas principais notícias desta televisão. , falando
mal de Lula. E, ao mesmo tempo, ele tem mais de 100 horas, transformando
um juiz mentiroso em um herói. Quero dizer, eles pensaram que a mentira
ia ganhar. E estou aqui para lhe dizer: a verdade vencerá, o que for
preciso, tarde o que for preciso, Mas o povo brasileiro saberá a verdade
e que as pessoas que me acusaram não têm moral. Eles usaram a justiça
para fazer política e o objetivo principal era impedir que Lula se
tornasse presidente da República deste país. E que o PT não pode mais
vencer as eleições. É isso, o mesmo ódio que tiveram com Kirchner e com
Cristina.
– Você se vê de novo Presidente?
.- Estou ciente de que meu papel
agora é contribuir para que outras pessoas, mais jovens que eu, com mais
energia que eu, com mais entusiasmo que eu … Com mais desejo, não
acredito. Mas outras pessoas, o Brasil tem pessoas muito boas. Existem
vários governantes interessantes, há novas pessoas na política. Espero
que o Brasil não precise de mim. Espero que tenhamos novos quadros,
novas mulheres, novos homens para participar de um processo eleitoral.
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