Se Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade ao interferir na PF, por que não falamos seriamente no impeachment? Por Joaquim de Carvalho
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Bolsonaro e o Inferno de Dante |
O presidente do Psol, Juliano Medeiros,
fez uma defesa tímida do impeachment (quase envergonhada) de Jair
Bolsonaro, em uma sequência de tuítes postada hoje. Ele lembrou que o
presidente cometeu crime de responsabilidade ao interferir na Polícia
Federal para tentar obstruir as investigações do caso Fabrício Queiroz,
que atinge diretamente um de seus filhos, Flávio Bolsonaro.
Juliano Medeiros fez uma
ressalta: o crime de responsabilidade ocorreu caso proceda a notícia
publicada na Folha de que a investigação sobre Queiroz é que motivou o
anúncio de Bolsonaro de troca de comando na Superintendência da Polícia
Federal no Rio de Janeiro. Até agora, não houve desmentido.
“A Folha afirma que foi a apuração do
caso Queiróz que levou à queda do superintendente da PF do Rio de
Janeiro. Se isso for comprovado, estaremos diante de um grave crime:
obstrução de investigação criminal (Lei 12.850/2013). Nesse caso,
Bolsonaro poderia ser alvo de impeachment”, disse ele, através do
Twitter.
“A lei do impeachment é clara no Art 12:
São crimes contra o cumprimento das
decisões judiciárias: 1) impedir, por qualquer meio, o efeito dos atos,
mandados ou decisões do Poder Judiciário. E o STJ já decidiu que a ‘obstrução da Justiça’ inclui a fase de inquérito”, acrescentou.
Na sequência de suas postagens, lembrou
que ainda não existe consenso entre os partidos de oposição sobre o
impeachment como estratégia de enfrentamento de Bolsonaro.
“Não quero dizer, com isso, que a
estratégia da oposição deva ser a do impeachment nesse momento, quando
não há ainda apoio expressivo dos demais partidos a essa opção. Apenas
chamo a atenção para lembrar que, se comprovada a denúncia da Folha,
teríamos mais um crime de Bolsonaro”, afirmou.
O impeachment, no entanto, pode
ser uma alternativa política concreta para cessar os absurdos cometidos
pelo presidente da república que colocam em risco a soberania do Brasil.
“Nada é pior que Bolsonaro”, disse o sociólogo Jessé Souza.
“Bolsonaro não tem limite, ele é um
psicopata, ele é mau, ele é incapaz de ter qualquer forma de empatia
especialmente com as pessoas mais frágeis. Para mim, qualquer pessoa é
melhor do que Bolsonaro”, disse.
Bolsonaro ganhou a eleição de modo
fraudulento, lembrou o sociólogo. “Eleição não é só o voto. E mesmo o
voto foi viciado. Por quê? A gente sabe o que fez Moro e toda canalhada
da Lava Jato para afastar Lula das eleições, quando Lula tinha o dobro
das intenções de voto de Bolsonaro. As eleições, portanto, foram
fraudadas ali já”, comentou.
Como não dar razão ao sociólogo?
Depois disso, ainda houve ataque de fake
news, através de uma indústria de propaganda que procurou explorar os
medos da população de modo desonesto. Só para citar um exemplo: kit gay
nunca existiu, mas foi divulgado como se fosse uma proposta de Fernando
Haddad.
Bolsonaro sobreviveu quase 30 anos na
política por conta de uma estratégia equivocada de seus adversários, que
nunca quiseram enquadrá-lo para valer.
Isso desde que defendeu explosões no Rio
de Janeiro para enfraquecer o comando do Exército, em 1987. Foi expulso
das Forças Armadas, mas reverteu a decisão no Superior Tribunal Militar
(STM), apesar da advertência de um dos ministros da corte.
“Um exame mais aprofundado leva este capitão às profundezas do inferno de Dante. Deixar este capitão continuar nas Forças Armadas, achar que ele não é incompatível com o exercício do oficialato, é uma decisão de muita responsabilidade para esta casa”, enfatizou.
Contra a vontade dos comandantes do Exército, o STM, por 9 votos a 4, manteve Bolsonaro como oficial, embora ele não tenha mais entrado em quartéis como militar da ativa. Foi para a reserva remunerada, aos 33 anos de idade, e enriqueceu na carreira política.
Sempre mostrou a que veio: sabotou a democracia pelo estrada da democracia. Poderia ter sido cassado em diversas oportunidades. Por exemplo, quando defendeu publicamente as milícias, a tortura e o racismo, pregou o fechamento do Congresso e estimulou a cultura do estupro, com ataque a uma colega de parlamento.
Hoje, o comportamento indecoroso dele na
presidência da república também é tolerado, sob argumento de que o vice
Hamílton Mourão seria igual ou pior. Ou que não haveria ainda apoio
popular para tirá-lo da cadeira que ocupa sem honra.
Errado.
É preciso dizer todos os dias, sem receio: “Fora, Bolsonaro!”.
Ele envergonha o Brasil, ameaça a
democracia, coloca em risco as instituições de Estado e seu
comportamento atrapalha o desenvolvimento econômico.
Mas se optou pela tolerância, e o Brasil, sem fazer a análise aprofundada dos desatinos do “capitão Bolsonaro”, está descendo às profundezas do inferno de Dante.
É preciso coragem para reverter esse quadro.
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