Toffoli e Leitão apanham dos monstros que ajudam a criar


por Fernando Brito, Tijolaço -

Coerência é algo que, ao se perder, leva junto a nossa identidade e logo não somos nem o que éramos nem seremos aquilo que nos oferecemos a ser..

Não me preocupo com patrulhas, porque conservo sempre, ou tento, os princípios nas minhas atitudes.

Jamais defendi esta técnica de direita que encantou a muitos, o tal “escracho”, não apenas porque não é coisa de gente civilizada como é péssimo guia para as relações de convivência política. Vaia das massas é compreensível, pessoas ou grupos causarem constrangimentos deliberados, não.

Da mesma forma, jamais defendi o policialismo arbitrário, a devassa imotivada da vida dos adversários e a transformação do processo judicial em um linchamento.

Estamos diante de dois casos em que agir assim não nos leva a “autocríticas”, algo em que são pródigos os hipócritas e os levianos.

Não preciso dizer que repudio o massacre que se faz sobre o presidente do Supremo, José Carlos Dias Toffoli e a “corrida” que levou Miriam Leitão da matilha bolsonarista que fez com que se cancelasse sua presença numa feira literária em Jaraguá do Sul (SC) nem ficar fazendo ressalvas óbvias de que não concordo com este tipo de atitude.

Tofolli tomou a decisão que o Supremo jamais devia ter revogado – como fez em 2016 – e restabeleceu a obviedade de que invasão policial sobre o sigilo bancário deve ter autorização judicial para acontecer. Não foi a única decisão esdrúxula tomada pelo Supremo para vergar-se ao clamor público do arbítrio que se consagrou usar e, descaradamente, acabou por ser tomada apenas quando visava proteger o filho de Jair Bolsonaro.

Ainda assim, a matilha bolsonarista uiva e arreganha-lhe os dentes no Twitter com hashtag “ForaToffoli” entre as primeiras em número de menções. Ele e Rodrigo Maia, que em tudo se prestaram à tolerância ao arbítrio e à sabujice estão apenas experimentando a colheita maldita das sementes que ajudaram a cultivar.

Dá-se o mesmo com Míriam, que adubou, na TV, no jornal e na internet, este clima de ódio e intolerância.

Não foi falta de advertência.

Toffoli tolerou o ataque dos “tontos” à casa do Ministro Teori Zavascki.

Miriam silenciou frente a várias agressões a jornalistas, entre as quais a da trupe que foi impedir a palestre de Glenn Grenwald em Parati.

Isso não justifica nem dá prazer em ver os ataques que sofrem, mas certamente mostra o que há de daninho no que fizeram ou permitiram que se fizesse.

Não se os está condenando por serem antipetistas ou contra a esquerda de onde vieram.

Reinaldo Azevedo sempre foi tanto ou mais de direita, mas teve a decência não só de se apartar deste processo quando ele evidenciou o autoritarismo e a selvageria que tem como, de peito aberto, pôs-se na trincheira contra o fascismo.

As duas vítimas – e não são as únicas – da matilha bolsonarista de que trato, não. Aceitam “nuances” e tergiversações, sempre que se acena com qualquer detalhe que coincida com os santos de suas fés.

Escreveu Dante nos umbrais do Inferno que deixassem ali todas as esperanças os que ali entravam. Eles entraram e ali não há alternativa à estupidez.

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