por Fernando Brito, Tijolaço -
Completam-se hoje seis meses do novo governo, se é que se pode chamar a administração Jair Bolsonaro de nova, de governo e até de administração.
É, mais precisamente, um retrocesso civilizatório, mais ainda porque sucede ao trevoso período Michel Temer.
Aliás, retomou-o do ponto exato onde este fora abatido pelas gravações de Joesley Batista: reforma previdenciária e privatização desenfreada.
Não é o caso de repassar os acontecimentos grotescos deste semestre, ainda vivos na memória do leitor, de tão insólitos e chocantes que foram e ainda são.
Nem de repertir que a vida real, na economia e nos serviços à população, estejam afundando sem sinal de estímulos a que se recuperem.
Se o pão escasseia, porém, o circo abunda.
Temos a perigosa brincadeira das arminhas, o sumiço de Queiroz, a safra contínua de laranjas, o palerma da Educação, a ira de Carluxo, o apoplético general Heleno, a mala do pó, a Terra Plana, o Olavo de Carvalho e a obsessão sexual de uma turma que já nem tem espinhas que a justifique.
Na camada dirigente brasileira (ou na parte dela que ainda não desceu para o clima tosco de churrascão no playground), há um certo espanto com o clima que se instalou no país, mas não o suficiente para entender – ou aceitar – que é preciso dissolver o quadro de anomalias em que mergulhamos e que nos levou ao mais desqualificado quadro que tivemos em todos os poderes da República.
É refém de sua incapacidade de aceitar um país plural e de compreender que não há, como na década de 60 havia, espaço para que haja crescimento econômico sem que ocorra, ao mesmo tempo, inclusão social e aumento da renda da população e, por isso, como com Vargas, vê Lula como um perigo e não como uma solução, porque até como simples “perigo”, é um antidoto contra políticas recessivas e de desmonte da economia.
Por isso, não percebe ou não valoriza o fato novo que surgiu na vida brasileira, o mais importante destes seis meses.
As revelações sobre as ilegalidades que moveram a máquina da Lava Jato são a grande oportunidade de sanear, dentro da lei e da atribuição das instituições da Justiça, o pântano de onde emanou o que temos hoje. Sublata causa, tollitur effectus, dizem os juristas e os médicos: retire-se a causa e o efeito cessa.
Não é que não restarão sequelas, estas serão de décadas. Mas estas vão se curando, cicatrizando, como os exantemas em geral desparecem tempos após vencida a infecção que os fez surgir.
O que se está oferecendo aos brasileiros, ao contrário do que pensam os grupos que foram à rua ontem, não é um “confronto final”, é uma oportunidade de normalização do país.
Porque deste governo, ou lá o nome que se lhe queira dar, isso não virá. Jair Bolsonaro se alimenta do ódio e nada diferente disso semeará.
E, portanto, é só que se colherá.
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