Politicamente, Moro morreu


O sociólogo Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, escreve sobre a decadência de Moro, que riscou o céu da política brasileira como um raio: "Em si, Sergio Moro não tem mais importância na politica brasileira. Todos os verbos que se referem a ele estão no passado"

por Marcos Coimbra, Brasil 247 -

Em si, Sergio Moro não tem mais importância na politica brasileira. Todos os verbos que se referem a ele estão no passado.

Chegou a ser uma hipótese de figura de primeira grandeza, quando surgiu para a opinião pública nacional como o juiz ferrabrás de uma tal Lava Jato. A maioria não o conhecia e somente os mais interessados no dia a dia do Judiciário sabiam quem era.  

 Às vezes, acende-se uma pequena luz no quadro da política. Pode ser um prefeito que chama a atenção,  um procurador inovador, um ministro que se destaca, um empresário com boas ideias. Ser governador de estado aumenta a chance de ser visto.

 A luz se acende, mas costuma apagar-se. É preciso mais que a oportunidade para criar um personagem relevante. No mínimo, é necessário ter carisma e substância.

Tome-se o caso de alguém cujo conceito original se enraizava em lugar semelhante ao de Moro no imaginário da sociedade. A luz de Fernando Collor faiscou em 1987, quando assumiu o governo de um dos menores estados do País com a bandeira da “guerra aos marajás”. Recebeu toda a ajuda que teve (e não foi pouca), mas só virou presidente porque a matéria prima de sua imagem era forte, várias vezes mais forte que a do ex-juiz.   

O nome de Moro chegou a ser incluído em algumas pesquisas na ultima eleição. Em uma do Datafolha de final de setembro de 2017, não alcançava 10%, apesar de ser conhecido por quase 80% dos entrevistados (Collor, em condições semelhantes - a onze meses da eleição e entre quem o conhecia -, passava de 40%). Números decepcionantes para alguém com tantas pretensões, que devem tê-lo ajudado a desistir da aventura.   

Percebendo que seu cacife era pequeno, Moro provavelmente avaliou que o melhor caminho seria tornar-se um “grande eleitor”, assumir o governo com o vitorioso e, a partir daí, garantir uma poltrona na primeira fila da política nacional. A esse projeto se dedicou desde o começo de 2018, esperando, pelo menos, o prêmio de consolação de uma cadeira no Supremo.  

Cumpriu o combinado com Bolsonaro e o antipetismo, correndo para tirar Lula da eleição, custasse o que custasse, passando por cima das normas mais básicas do Direito. Graças ao The Intercept Brasil, temos agora uma ideia de como ele e sua turma agiram para interferir na eleição. Nada, porém, que surpreenda quem se lembra de suas fotos debochadas com Michel Temer e os amigos tucanos.

Deu o passo seguinte tornando-se logo ministro de Bolsonaro, mas, outra vez, foi além do que as pernas alcançavam.

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