Não tem time bobo no futebol. Nem país bobo na União Europeia


por Fernando Brito, Tijolaço -

Devagar com o andor na avaliação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
É claro que acordos comerciais podem ser vantajosos ao país e a União Europeia não é parceiro pequeno, que não tenha importância.

Mas só com o conhecimento dos detalhes acordados e suas formas e prazos de implementação é que se vai saber o que foi dilatado e o que foi engessado nas muitas áreas de negócios.
A cota de 99 mil toneladas de carne bovina que o bloco tem o direito de exportar para a UE é evidentemente pequena.

Ano passado, já se havia feito a concessão de baixar de 390 mil para 160 mil toneladas de carne bovina na cota de importação sobre as quais incidiria tarifa menor. O que passasse disso, teria tarifação mais pesada. Agora, ao que se noticia, ficamos com 27% da quantidade inicialmente pretendida e 62% do que foi a última proposta de acordo.

Na indústria, o efeito de curto prazo é negativo, para um setor que já não anda lá muito bem das pernas. A eliminação da tarifação de componentes pode ser um pequeno alívio, mas certamente menor que as vantagens concedidas na importação de produtos acabados. Na melhor das hipóteses, ganharemos montadores nacionais, no médio prazo.

A ampliação das compras e serviços governamentais poderia ser muito mais vantajosa se o polo de exportação de serviços de engenharia brasileiro – talvez o únic setor onde estivéssemos entre os top players mundiais – não tivesse sido arruinado desde 2015.

É cedo para se dizer completamente o que repercute o acordo em cada setor e, portanto, globalmente.
Gente que conhece o assunto, como Marcelo Zero,  chama o acordo de “7 a 1”, em artigo no Brasil 247. Pode não ser de tanto, até, mas é bom lembrar que nossos países entraram derrotados em campo na última rodada.

De modo significativo, os europeus estavam, até pouco tempo, exultantes. Falavam da “oferta generosa” do Mercosul, sob a batuta de Bolsonaro e Macri, dois governos acossados pela recessão, a fragilidade política e a submissão ideológica. Os europeus não mudaram de posição, nós sim.

Apesar de ameaçados pelas consequências de uma guerra comercial entre EUA e China, os países europeus vivem um ciclo de crescimento econômico, enquanto os dois “cabeças” do Mercosul, Brasil e Argentina, vão, respectivamente, de mal a pior, embora, como você vê no gráfico de nossas vendas à União Europeia, não devêssemos ter nenhuma pressa em fechar acordos desesperados.

O primo rico sempre leva vantagem com o primo pobre nos negócios. Mas, mais ainda, quando este está matando cachorro a grito.

Comentários