Por Leandro Fortes, do Jornalistas pela Democracia -
Sérgio Moro não foi ao Senado Federal se explicar, mas apenas participar do primeiro de muitos eventos bajulatórios que o governo Bolsonaro irá programar, dentro e fora do Congresso Nacional,
para tentar impor a narrativa de que o alvo da oposição não é o ex-juiz, mas a Operação Lava Jato.
Trata-se de uma manobra tão legítima quanto manjada.
Moro, um desastre de retórica e dicção, foi enquadrado num treinamento de media training eficaz, mas que só reforça o vazio de seus argumentos. De forma pusilânime, conseguiu conduzir seus depoimentos dentro da bolha de segurança montada pela base do governo no Senado. Não esclareceu nada, não respondeu nada, manteve-se naquelas notinhas de falsete na voz, focado nos números e na delirante natureza divinal da Lava Jato.
Enfim, o horror de sempre.
Mimado pela Globo e alçado ao status de herói anticorrupção, o ex-juiz só engrossa a voz quando está sendo paparicado, como cabe a celebridades de ocasião. Estivesse mesmo certo de sua inocência, Moro não estaria se dispondo a falar a um público hostil, coisa que odeia. Estaria, desde o primeiro vazamento do Intercept Brasil, arrotando autoritarismo e processando deus e o mundo.
Não o fez por uma razão: medo da “exceção da verdade”, o recurso processual que permitiria ao Intercept Brasil requerer a abertura do sigilo de Moro, no Telegram, para que ficasse provada a alegada falsidade das mensagens, caso o ex-juiz processasse o site de notícias.
Moro não pode fazer isso, entre outras coisas, porque não é só a pele dele que está em risco. Como se viu no caso de Fernando Henrique Cardoso, os arquivos do Telegram são uma Caixa de Pandora sobre a qual nem Moro, nem ninguém no governo Bolsonaro têm qualquer controle – ou ideia – do conteúdo geral.
Moro vai continuar ganhando comendas militares, vai seguir visitando inferninhos da mídia chapa branca, como o Programa do Ratinho, ou mesmo sendo convocado para esses teatros do absurdo, no Congresso Nacional.
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