Bolsonaro quer um país de ignorantes. Não conseguirá


por Gilvandro Filho, Brasil 247 -

Por Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia

Pós-graduados em falta de noção, doutores em embuste e mestres em lorota, o presidente Jair Bolsonaro, seus auxiliares e seu aliados empenham-se em uma verdadeira cruzada cuja missão é transformar o Brasil em um país de ignorantes. Não conseguirão. Mas, a intenção ficou muito clara durante a patacoada do último domingo, quando pequenos grupos foram às ruas gralhar que educação e democracia são elementos descartáveis e sem qualquer importância. Se vivo fosse, o genial Sérgio Porto, imortalizado como Stanislaw Ponte Preta, teria que reeditar o seu clássico Febeapá (Festival da Besteira que Assola o País). Com toda certeza, em um volume maior que todos os outros.
Fracasso retumbante que só não aconteceu aos olhos, e nas páginas, de alguns jornais da grande imprensa, as manifestações viraram um circo de horrores.

Espetáculo deprimente com direito a cenas bizarras como a destruição, pela turba bolsonariana, de uma faixa que pedia “apoio à educação”, afixada na UFPR, universidade pública no Paraná. A ação, embora inacreditável para qualquer cabeça normal, é um retrato fiel do público que foi às ruas defender um governo fascista e um presidente que troca escola por clube de tiro.

Ponto crítico em um governo que não consegue sair do buraco em que se meteu ao longo de cinco tristes meses de existência, a Educação está pagando o pato pelo “novo” país que os eleitores de Bolsonaro permitiram surgir das urnas.

Começou mal, com um ministro folclórico que colecionou patetices e acabou caindo pelo conjunto da obra. O colombiano Vélez Rodriguez virou um meme ambulante, membro de um grupo inacreditável de ministros cuja característica é a bizarrice e o alto poder de produzir besteiras. Dessa trupe, ainda exercem a missão de divertir a patuleia Damares Alves, da Mulher e (acredite!) dos Direitos Humanos, e o chanceler suplente Ernesto Araújo (o titular, de fato, é o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro).

Esse grupo de auxiliares, há quem aposte, está no governo (como estava o intrépido Veléz) para, perante o grande público, realizar ações diversionistas para tirar de foco a ação mais nociva e importante de ministros como Paulo Guedes, da Economia, e de ações de governo como a submissão crescente do País aos Estados Unidos, função tocada pessoalmente pelo presidente e por sua área de Justiça e Segurança. Aí, nesses setores, um perigo real no que tange ao desmonte radical de tudo que foi conquistado pelos trabalhadores, ao longo de décadas, e a toda e qualquer soberania e autodeterminação do Brasil.

É como se, às vésperas de se definir algo muito grave e prejudicial aos brasileiros – venda do Banco do Brasil seria um exemplo), a “inteligência” do governo se reunisse e convocasse um desses ministros diversionistas e encomendasse um bobagem daquelas bem estapafúrdias (“homens só vestem azul; mulheres só usam rosa”, por exemplo) para o público e a mídia discutirem e se ocuparem. Um pouco de circo sempre que se precisar encobrir a falta de pão.

No caso da Educação, tema dessas mal traçadas, pode se dizer que houve prejuízo para o País com a troca de ministros. O atual titular da pasta, Abraham Weintraub não é apenas risível como era o caso de seu antecessor. O homem era a segunda pessoa da Casa Civil e foi um dos formuladores da Reforma da Previdência de Bolsonaro. Aparentemente é um formulador e, ao contrário de Veléz, é ouvido pelo seu chefe. Em comum com o colombiano, a princípio, o nível cultural e o pendor para inventar qualidades e títulos que, na verdade, não possui.

É de Weintraub, por exemplo, a tese segundo a qual corte e contingenciamento não guardam semelhanças e são coisas completamente diferentes. A rigor, trata-se da mesma coisa e versa sobre o mesmo efeito: quem é vítima de um ou de outro deixa de receber. Os efeitos juntos às universidades dos cortes (ou do “contingenciamento”) de 30% nas verbas das universidades federais significam uma coisa só: golpe mortal no ensino público universitário e uma farra para as universidades pagas, cuja valorização acionária já é grande unicamente pelo assunto ter vindo à tona.

Voltando às manifestações de domingo, mesmo tendo sido o fiasco de público que foi, chamou atenção ainda ter juntado o pessoal que juntou. Isso pela legião de “desertores” que, por verem o nível dos atuais governantes, já saltaram fora dessa barca furada. Nível que segue a linhagem do bolsonarianismo, onde vale tudo. A começar por um presidente comemorar o “êxito” da empreitada com uma imagem feita em 2015, de uma idosa que faleceu. Mais uma fakenews de um governante que se elegeu à base delas.

Enquanto isso, no Brasil verdadeiro, Chico Buarque ganha o Prêmio Camões pelo imenso conjunto de sua obra; Kléber Mendonça e Juliano Dornelles recebem o inédito (para o Brasil) Prêmio do Juri do Festival de Cinema de Cannes, o mesmo no qual outro cineasta, Karim Anouz, leva o outro importante prêmio, o “Certo Olhar”; Paulo Freire, 22 anos depois de sua morte, ainda é o educador brasileiro mais estudado e adotado no exterior. Contra esse Brasil que enobrece e dá orgulho, a barbárie que infestou o domingo nada pode fazer. Por mais que tentem.

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