Bolsonaro é um caso de interdição, não de impeachment


por Fernando Brito, Tijolaço -

À primeira vista, a legislação brasileira pune com o impeachment apenas os casos de crimes de responsabilidade e não se presta, ainda, para punir com a perda de mandato um presidente que, às escâncaras, comete o “crime de falta de responsabilidade” ao exercer o cargo que o povo, por artes da Justiça e da mídia, lhe confiou.

Talvez fosse  aplicável uma extensão política do Código de Defesa do Consumidor, ao lidar-se com o caso de alguém que cumula várias infrações: propaganda enganosa, produto defeituoso, riscos à saúde pública e “venda casada” de diversas bugigangas instaladas na Esplanada dos Ministérios. Aí sim, a Constituição prevê remédio: até dois anos depois da trapaça, devolve-se o voto e o lesado pode escolher um novo, de outra marca.

O precedente mais adequado, porém, parece vir de um pequeno país, que incomoda Bolsonaro por nos ter exportado, ano passado, três carretas de banana: o Equador.

Foi lá que aconteceu, há 23 anos, a história de Abdala Bucaram, o  El Loco aí da foto,  eleito presidente e, seis meses depois, interditado como mentalmente incapaz pelo Congresso. Bucarán fez, também, uma campanha onde prometia acabar com a corrupção, tinha um filho, Jacobo, mandando no Governo e acusado de desvios de verbas. Bucaram, ao menos, não fazia “arminhas”, fazia “dancinhas” em shows de rock e em programas de televisão e ficou 20 anos foragido da justiça equatoriana.

Certamente mais manso, o equatoriano era menos perigoso, porque o nosso El Loco flerta descaradamente com a memória do autoritarismo e não se furta a incitar os militares a se exporem em louvações ao que eles próprios sabem já não caber nos tempos atuais.

Não é possível fazer oposição ao governo Bolsonaro, porque não há como se falar que, neste momento, exista um governo no Brasil, o que ainda existe é uma máquina administrativa que funciona, ainda que mal, apesar dele.

Do que se trata é de fazer uma política de contenção de danos, evitando que ele possa até isso destruir e serenar os ânimos no sanatório geral que ele mobilizou, em cordões de fanáticos, porque os loucos são magnéticos.

Machado de Assis, há 130 anos, ensinou em seu O Alienista: é internar Simão Bacamarte e libertar todos os outros, porque loucura foi entregar o governo aos loucos.

Comentários

Lily Allen disse…
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