por Marcelo Zero, Brasil 247 -
As últimas notícias sobre a corrupção na família Bolsonaro, evidenciada em provas materiais, mostraram à opinião pública o que qualquer pessoa bem informada sobre política já sabia há muito tempo: o "Mito" nada mais é que um político do mais baixo clero, incompetente, mentalmente fronteiriço, sem ideias e projetos racionais para o país e que entrou na política para enriquecer e defender interesses paroquiais.
O rei está nu e o "Mito" acabou.
Bolsonaro nunca passou de um idiota útil, que chegou ao poder graças ao antipetismo e à mentalidade profundamente retrógrada propiciados pelo processo golpista e por um oportunista, hipócrita e seletivo combate à "corrupção".
Bolsonaro ganhou às eleições graças a esse processo e a um festival de fake news financiado pelo grande capital, que viu nele a última esperança para derrotar o projeto de crescimento com distribuição de renda simbolizado pelo PT.
Junto com ele, chegou ao poder gente totalmente desqualificada, emergida das cloacas das redes sociais. Um somatório confuso e patético de quadros que acreditam na Terra plana, no criacionismo, no kit gay, na mamadeira de piroca e até mesmo em Trump compõe o núcleo ideológico e mais barulhento de um governo que não tem menor ideia para onde ir.
O somatório de um governo que se desdiz a todo tempo, que não sustenta decisões por 24 horas, que desautoriza o presidente todos os dias, que só vocaliza absurdos e que já soma denúncias comprovadas de corrupção resultou num processo galopante de progeria política.
Bolsonaro nasceu velho, decrépito. O "Mito" desfez-se e revelou uma realidade crua e abjeta.
Mas Bolsonaro não é o governo Bolsonaro.
Ao contrário de Lula, por exemplo, Bolsonaro não é uma liderança real, assentada em grandes lutas históricas e no respeito de seus pares. Nunca foi.
Bolsonaro é apenas um front man, um produto artificial do antipetismo e das fake news. Uma espécie de Temer II.
Bolsonaro, o sabem todos, não tem condições de administrar nem um simples condomínio, quanto mais um país complexo com o Brasil.
Sua função ideal é assinar atos com sua caneta Bic e fazer gestos de "arminha" com um sorriso beócio.
Assim sendo, a crise gerada pelos comprovados atos de corrupção de sua família poderá ser contornada.
É imperativo que assim seja. As grandes forças nacionais e internacionais que apostaram tudo no golpe, na venda do Brasil e na implantação de um projeto ultraneoliberal no país não vão "largar o osso" e botar tudo a perder por causa de um deputado do baixo clero.
O cenário mais provável é que Flávio Bolsonaro seja jogado aos tubarões como forma de preservar o "Mito". O Judiciário partidarizado e o pior Congresso eleito da história se encarregariam de blindá-lo por pelo menos 2 anos. Antes disso, seu eventual impeachment implicaria a realização de novas eleições, incógnita política que não interessa em absoluto aos reais donos do poder.
É claro que tudo isso cobrará preço para Bolsonaro e famiglia. O "Mito", que, pelo que se observou, já não mandava muito, passará a não mandar nada. O poder real será exercido definitivamente pelo triunvirato Mourão-Guedes-Moro e pelos grupos de pressão que elegeram o sujeito que faz "arminha". A famiglia vocal e barulhenta deverá ser silenciada e contida.
Bolsonaro tende a ser um lame duck (pato manco) precoce. Com tal reviravolta, é possível que o governo Bolsonaro se desfaça progressivamente de algumas figuras patéticas, como a do chanceler templário, que só causam desgaste interno e embaraços internacionais, comprometendo a governabilidade e os grandes interesses econômicos. Mourão já sinalizou tais mudanças. Deverá ocorrer uma depuração política, que torne o governo algo minimamente consistente e coeso.
Nesse processo, poderá ocorrer também uma reacomodação de interesses com a parte rebelde da imprensa, que decidiu fazer jornalismo para tentar salvar não o Brasil, mas a si mesma.
Entretanto, o sucesso desse inevitável processo de rearranjo político e de blindagem do "Mito" dependerá estreitamente do desempenho da economia.
O golpismo submergiu o país na pior crise da sua história e há três anos promete a recuperação que não vem. Criou o problema e prometeu ser a solução que não surge.
Pelos cenários que se apresentam na economia internacional e em âmbito nacional, tal recuperação não virá. Teremos, no máximo, voos precários e transitórios de galinha, somados ao andar vacilante e sem rumo de um pato manco.
Abraham Lincoln teria dito que "pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo".
Portanto, é provável que o próprio governo Bolsonaro demonstre, com o tempo, a sua verdade. Demonstre ter a mesma consistência intelectual, política e moral do oligofrênico que faz "arminha" e acredita na Terra plana e no neoliberalismo como modelo adequado para promover o desenvolvimento sustentado com distribuição de renda.
Bolsonaro e o governo Bolsonaro poderão ter o mesmo triste e precoce fim.
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