Bolsonaro com Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, extremista de direita. |
por Joaquim de Carvalho, DCM -
O capitão da reserva Jair
Bolsonaro tomou posse como presidente da república com um discurso
ideológico, em que reafirma conceitos da extrema direita.
No Congresso Nacional, disse:
“Convoco cada um dos parlamentares para
me ajudarem na missão de restaurar e de reerguer nossa Pátria,
libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção, da criminalidade,
da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica”.
Bolsonaro daria uma grande contribuição se apontasse, objetivamente, a que ideologia o Brasil esteve submisso nos últimos anos.
Sua frase remete aos “ensinamentos” de
Olavo de Carvalho, em que ele aponta uma suposta conspiração mundial
para implantar o marxismo.
Disse, também, que vai combater a
ideologia de gênero, um conceito que não existe, mas sobre o qual se
falado nos púlpitos das igrejas católicas e evangélicas
ultraconservadoras.
“Vamos unir o povo, valorizar a
família (…) combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores. O
Brasil voltará a ser um país livre de amarras ideológicas”, afirmou.
Também fez uma referência ao movimento escola sem partido, que está em julgamento no Supremo Tribunal Federal.
“Daqui em diante, nos pautaremos pela
vontade soberana daqueles brasileiros que querem boas escolas, capazes
de preparar seus filhos para o mercado de trabalho e não para a
militância política”, disse.
Hoje vigora uma liminar, concedida pelo ministro Luís Roberto Barroso, que garante a liberdade do professor em sala de aula.
Se houvesse orientação ideológica de esquerda nas escolas, Bolsonaro teria sido eleito?
É claro que não, mas ele alimenta esse
discurso porque sobrevive politicamente dele. O presidente necessita de
inimigos para se fortalecer.
É a diretriz de propaganda do mentor da
extrema direita mundial, o norte-americano Steve Bannon, que ajudou na
eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e de Bolsonaro no Brasil.
Para Bannon, é preciso falar ao
inconsciente dos seus apoiadores, emocionar, levando para a política uma
estratégia de guerra ou o comportamento de torcidas de futebol.
Nos embates políticos, para conseguir
apoio popular, deve-se valorizar o sentimento, não o raciocínio lógico. É
o que ensina Bannon.
Bolsonaro voltou a utilizar a expressão “cidadão de bem” para se referir ao direito ao porte de armas.
“O cidadão de bem merece dispor de meios
para se defender, respeitando o referendo de 2005, quando optou, nas
urnas, pelo direito à legítima defesa”, afirmou.
Cidadão de bem era o nome do jornal mantido nos Estados Unidos pela Klu, Klux Klan, na década de 20.
Na área de segurança, prometeu “honrar e valorizar”os policiais.
É o resgate de um discurso de campanha,
em que ele disse que daria carta branca para os homens de farda matar,
como se a polícia brasileira já não matasse bastante.
Sua equipe estuda medidas para ampliar o
conceito de “exclusão de ilicitude”, para que o policial não responda
pelo crime de homicídio.
“Vamos honrar e valorizar aqueles que
sacrificam suas vidas em nome de nossa segurança e da segurança dos
nossos familiares”, discursou.
Bolsonaro falou em “respeitar (…) a tradição judaico-cristã”.
Na mesma frase, mencionou o respeito às
religiões, mas, ao acrescentar “tradição judaico-cristã”, o que ele quis
dizer exatamente?
Será que é uma justificativa para transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém?
Só dois países fizeram isso, contrariando
resolução da ONU, que considera Jerusalém território neutro: os Estados
Unidos e Guatemala.
No caso dos Estados Unidos, há uma lei, aprovada há bastante tempo, que autorizou Trump a tomar essa medida.
A Guatemala foi de carona. O Brasil de Bolsonaro fará o mesmo?
Seja como for, é uma fala incoerente com a
interpretação que os jornalistas das organizações Globo estão dando
para o discurso de Bolsonaro.
A manchete de hoje do jornal O Globo, em
que supostamente antecipa a linha do discurso: “Bolsonaro vai pregar
união e austeridade”.
Os apresentadores e colunistas da TV Globo e Globonews estão seguindo pelo mesmo caminho.
Talvez seja um desejo deles, mas não é isso o que Bolsonaro disse no seu primeiro dia como presidente.
Pela manhã, ele já havia usado o Twitter
para espinafrar a revista Veja, que, através da coluna Radar, registrou
que Bolsonaro teria “puxado a orelha” dos filhos, e dito a eles que a
campanha acabou.
A resposta do presidente é típica de quem
quer continuar no palanque: “Não é a primeira fake news do ano, mas
vale uma risada! Kkkkkkkkk…..vamos pra rampa! Selva!”.
Pouco depois, foi para a cerimônia de
posse e levou o filho, Carlos Bolsonaro, que havia postado um vídeo com
alguns dos momentos mais agressivos do pai, nos últimos anos.
Num perfil sobre Carlos, que é vereador
no Rio de Janeiro, a Folha de S. Paulo o chamou de “pitbull” do
presidente nas redes sociais.
Carlos Bolsonaro desfilou ao lado do pai e da madrasta, Michele, no Rolls Royce presidencial durante todo o trajeto.
No discurso, Jair Bolsonaro fez referência à facada que sofreu e chamou de “inimigos da pátria” quem tentou matá-lo.
Na verdade, até aqui a investigação da Polícia Federal concluiu que há “um inimigo da pátria” e não “inimigos” neste caso.
“Quando os inimigos da pátria, da ordem e
da liberdade tentaram pôr fim à minha vida, milhões de brasileiros
foram às ruas”, disse.
A versão, que não encontra apoio na
conclusão do inquérito policial até aqui, serve como uma luva para quem
quer continuar mantendo o episódio lamentável — quase uma tragédia —
como trunfo político.
No discurso para seus apoiadores, no parlatório do Planalto, foi ainda mais incisivo no discurso ideológico. Disse que a bandeira do Brasil jamais seria vermelha, a menos que fique manchada do “nosso sangue” para defender o verde e amarelo.
Quando foi que se tentou introduzir o vermelho na bandeira nacional? Vermelho é uma das cores da bandeira dos Estados Unidos, para a qual ele bateu continência.
Bolsonaro continua em campanha.
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