Faixa de grupo de extrema direita dos EUA, inspirada na suástica, é esticada na Paulista. O que mais falta?
Bandeira do Kekistan na Paulista no domingo (FOTOS YAN BOECHAT) |
Aquelas pessoas que sempre foram
avessas à todas as ideias progressistas de Fernando Haddad quando
prefeito, descarada e silenciosamente tornaram-se adeptas das
ciclofaixas bem como têm adorado levar os filhos para passear na avenida
Paulista fechada para carros ao domingos.
Prova maior de que a turma que queria
Haddad longe da prefeitura – pois tinha urticária de pensar num IPTU
progressivo – passou a adotar a avenida como parque é o fato de que
muitos partidos liberais fizeram campanha, panfletagem e dancinhas
ridículas ali nos domingos.
Assim a Paulista, aquele antro de
feministas quilombolas gayzistas e maconheiros, recentemente tem sido
palco de alguns entreveros políticos. Mas os tais entreveros vinham-se
mantendo pontuais e individualizados. Nunca passaram de ríspidos porém
breves diálogos.
Até este último domingo.
Ontem, pessoas aglutinaram-se em grupos
antagonistas e foi preciso formar um cordão policial entre eles. E entre
os camisas amarelas apoiadores do inominável, eis que surgiu a bandeira
do Kekistan.
Essa bandeira tem sido vista em todas as
manifestações da extrema direita norte-americana. Estava também, claro,
juntamente com tantos outros grupos supremacistas na cidade de
Charlottesville em agosto do ano passado, quando James Alex Fields passou com seu carro sobre uma manifestação contrária a eles e deixou uma pessoa morta e dezenas feridas.
O Kekistan é um ‘país imaginário’ e sua bandeira é um espelho da bandeira de guerra nazista alemã.
O logotipo parece uma suástica estilizada
e é aplicado no mesmo local. As faixas são as mesmas, mas a cores de
fundo mudaram para verde e preto (cores do exército de Mussolini, por
sinal).
É preciso dizer que os ‘habitantes’ do Kekistan são 100% eleitores de Trump?
O Kekistan e seu nome de batismo surgiram
na cultura dos games online (como Warcraft). O termo ‘LOL’ normalmente
usado como risada nas caixas de diálogo foi lido como ‘KEK’ por alguns
sistemas. Esse é o DNA do tal ‘país’.
É juvenil, que se pretende transgressor,
que se situa na ‘zoeira’. Uma das principais características desse tipo
de perfil é o de escrachar o politicamente correto. Essa, aliás, parece
ser a cláusula pétrea de uma carta magna, caso ela existisse.
A bandeira do Kekistan na emissora emissora americana MSNBC |
Esse espírito de zombaria, de
brincadeira, induz muita gente a pensar que seria um erro de levá-los a
sério. Bom, ninguém levava Hitler, ou Mussolini, ou Trump (ou Bolsonaro)
a sério e deu no que deu. Um ponto de convergência entre esses
personagens é que são todos caricatos, cômicos.
Essa superficialidade jocosa facilita o
trabalho criadores de memes e seguidores do Kekistan. Perceba quantas
vezes o capitão reformado já recorreu ao “era só uma brincadeira” para
sair pela tangente.
Como ele sempre faz piadinha de tudo, pois não tem estofo para debater nada, a coisa é comprovadamente eficaz.
O tal Kekistan é fruto dessa cultura de
memes, que é extremamente benéfica para eles nesse sentido, pois é a
linguagem que são capazes de compreender. Apenas e tão somente essa. Um
livro com 580 páginas é algo impensável para esse tipo de gente.
Segundo esses pseudo-intelectuais, Lula
jamais teria lido 50 páginas por dia, pois isso é “impossível para
qualquer ser humano”. Quem não se lembra dessa pérola?
Vamos recapitular: de engraçadinha essa
turma não tem nada. O membros do Kekistan estão sempre ao lado de grupos
como o Movimento Nacional Socialista (a maior organização neo-nazi dos
Estados Unidos) e participam do planejamento de atos violentos e de
conflitos que visam a pancadaria.
O número de casos de violência praticados
por extremistas da direita americana dobrou no ano passado em relação
ao ano anterior (dados do ADL, Anti-Defamation League, uma ONG que
combate o antissemitismo e o racismo).
Por aqui, já temos uma escalada a olhos vistos.
Já mataram Moa, já riscaram com canivete a
barriga de uma moça, já são pelo menos 50 casos de agressões
registrados e quase todos vindos de seguidores do candidato que há 28
anos apoia a tortura, afirma que a ditadura matou pouco, incita ódio a
mulheres, gays, negros e depois declara: “O que tenho a ver com isso?”
Para um maluco dar ouvidos a um
irresponsável como Bolsonaro ou ser influenciado pelos ‘habitantes’ de
Kekistan e invadir a avenida Paulista com seu carro aos moldes de
Charlottesville falta pouco. Mas há uma imensa parcela da população e de
autoridades que têm mantido os olhos bem fechados e fazendo-se de
surdos.
Não tem como dar em coisa boa.
Qualquer coincidência é mera semelhança |
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