por Janio de Freitas, Folha de S. Paulo -
Os limites legais e os limites dos
costumes caem no Brasil sem cessar e sem obstáculos. Mas Jair Bolsonaro,
contribuinte para os dois ramos da ceifa, avançou demais a pretexto da
pré-candidatura à Presidência. Sua pregação da violência, mesmo que
criminosa como a das milícias, passou a fazer o incentivo explícito e
público aos assassinatos.
Ei-lo, depois de vestir uma faixa
presidencial, no sul do Pará, uma das duas regiões rurais de maior
criminalidade: “Esses marginais que cometeram esse crime [morte de um
açambarcador de terras] não merecem lei, não. Merecem é bala.” E foi por
aí.
Um defensor de menos injustiça social não precisaria chegar a tanto para que estivesse atolado em processos criminais. E preso.
Bolsonaro jamais correu tal risco,
nem qualquer outro decorrente de leis. Desde o início como agitador da
violência, quando usou a então mulher para ameaçar com o corte explosivo
da água para o Rio, caso sua turma de tenentes não recebesse aumento,
Bolsonaro aplica à vontade a sua vocação. Para ele não há
Procuradoria-Geral da República, Ministério Público, Judiciário, como
não houve Justiça Militar. Há pouco, o comandante do Exército posou com o
pré-candidato para foto logo incluída na campanha eleitoral.
Bolsonaro está levando pelo país
afora, com maior presença nas áreas mais conturbadas, a sua pregação da
violência e da arma como “um direito dos cidadãos”, em detrimento das
condutas legais. É propaganda contra a Constituição. E não só. Também se
contrapõe às ansiedades da população e aos esforços, tantas vezes
fatais, pela contenção da violência.
Bolsonaro mobiliza o que há de pior
no Brasil. Sob os olhares viciados dos que deveriam agir sem distinções
na proteção do Estado de Direito.
Um exemplo pelo avesso desse vício
faccioso está na repercussão da sentença que absolveu Lula (e mais seis)
de “obstrução à Justiça”.
A absolvição ressaltou-se por fugir
ao esperado, interrompendo uma sequência de fatos similares já no quarto
ano. Solução reveladora para um caso revelador: o próprio juiz federal
Ricardo Soares Leite refere-se à sua percepção de uma montagem suspeita.
A do encontro em que o então senador Delcídio do Amaral insiste em
fantasiosa fuga de Nestor Cerveró, cuja anomalia facial bastaria para
repeli-la.
O Ministério Público não esteve
alheio a esse episódio. E muito menos à segunda montagem, em que o nome
de Lula entrou no depoimento de um Delcídio do Amaral desesperado por
obter dos procuradores da Lava Jato, a qualquer custo, o prêmio da
liberdade. Recebeu-o sem demoras.
Se estava dito todo o desejado, para
que as provas de repente exigidas pelo juiz de Brasília? Não foram
apresentadas, nem existiam. Os procuradores estavam, e continuam,
habituados com Curitiba. Assim como o deputado Bolsonaro com a ética da
Câmara, com a Justiça Eleitoral e com o Ministério Público.
Comentários