Por Miguel Enriquez, DCM -
Num
 dia de noticiário político fraco, como a segunda feira,18, em que o 
assunto principal era a influência do novo corte de cabelo de Neymar 
(apelidado de minestrone pelo ex-craque francês Cantona) sobre seu 
futebol, a denúncia de que uma batida surpresa da Polícia Civil de 
Brasília encontrou chocolates e cereais na cela dividida pelo empresário
 Luiz Estevão com o petista José Dirceu, na Papuda, fez a festa dos 
jornalistas da GloboNews. 
Apelidados pelo ministro Gilmar Mendes de
 “Terceira Turma do Supremo”, suas excelências não escondiam a 
reprovação às supostas facilidades e regalias concedidas aos ilustres 
inquilinos da Papuda, analisando com toda dramaticidade as descobertas 
os policiais envolvidos na chamada Operação Bastilha. 
“Não é a primeira vez que isso acontece”,
 afirmou o ministro Gerson Camarotti no programa Em Pauta. “Vejam onde a
 gente foi parar.” 
Sua colega de turma, Mônica Waldvogel, 
não ficou atrás. “É preciso uma investigação rígida”, ordenou. No que 
foi secundada pelo apresentador do Em Pauta, Sérgio Aguiar. 
“É preciso uma reação do Estado”, afirmou. “É preciso apurar e dar uma resposta à sociedade.” 
Guardadas as proporções, as barras de 
chocolate e de cereais assumiam na visão blobonewsiana periculosidade  
similar aos arsenais de fuzis, facões e granadas costumeiramente 
encontrados nas revistas policiais nos superlotados presídios 
brasileiros. 
Para complicar ainda mais e 
aumentar a preocupação da turma, foram encontradas uma tesourinha, 
pendrives, um suspeitíssimo manuscrito de Dirceu, no qual o ex-ministro 
falava em conseguir a permissão para receber a visita de sua filha menor
 de idade fora do horário regulamentar e pastas de documentos 
empresariais de Estevão, caprichosamente guardados na biblioteca do 
presidio.  
Segundo
 o delegado Fernando Cesar Costa, um dos responsáveis pela batida, não 
há dúvida: Estevão agia como se fosse “o dono da cadeia.”
Na avaliação do pessoal da GloboNews, o 
episódio comprova mais uma vez a existência de privilégios aos presos 
mais poderosos, e ricos no sistema penitenciário brasileiro. 
Para tanto, rememoraram a blitz promovida
 pelo Ministério Público do Rio de Janeiro no fim do ano passado, na 
Cadeia Pública de Benfica, onde estava preso o ex-governador Sérgio 
Cabral. 
Ali, é certo, o cardápio gastronômico encontrado foi mais estrelado do que o da Papuda: camarão,
 bacalhau, queijo de cabra, presunto importado, refrigerantes e iogurte 
Activia que, por sinal, era vendido na cantina da prisão.
Estridências à parte, a indignação de 
Camarotti e companhia é mais um capítulo da onda de moralismo e 
denuncismo que assola o país.
Caso fizessem o dever de casa, ficariam sabendo que a
 entrada de alimentos, refrigerantes, produtos de higiene pessoal e 
vestimentas, entre outros itens, é permitida no sistema penitenciário.
Basta ver nas longas filas dos dias de 
visitas a qualquer estabelecimento penal visitantes (geralmente mães, 
esposas e filhos) carregando sacolas com esses itens, conhecidas como 
Jumbo no jargão dos presos. 
Evidentemente, a composição do Jumbo varia, em função da renda de quem visita . 
Em São Paulo, por exemplo, o que pode ser
 levado aos detentos é regulamentado pela Secretaria de Administração 
Penitenciária, que dispõe também sobre a quantidade que pode ser 
levada. 
A variedade é grande. 
Chocolates como os de Estevão, que tanto 
chocaram a mídia – o Estadão dedicou praticamente toda sua principal 
página de política ao tema, na edição desta terça feira,19 – podem sim, 
ser consumidos atrás das grades.
Da mesma forma, comidas prontas, frutas de época, frios fatiados, açúcar, pão, frios fatiados, doces e bolos, entre outros.
De qualquer forma, a importância 
concedida à Operação Bastilha, certamente deve ter despertado a 
curiosidade dos leitores mais antenados. 
A julgar pelas aparências, a segurança 
pública no Distrito Federal deve ser nota 10. Aparentemente, assim como a
 GloboNews, a polícia local não tinha nada mais importante para fazer na
 segunda feira. 

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