Temer recuou ou só tentou limpar a imagem de conspirador?


Após repercussão da carta à Dilma, vice cedeu entrevista ao O Globo afirmando que "sempre disse" que vai com a presidente até 2018. Mas, ao mesmo tempo, disse que tem sido procurado pelos "setores interessados" e se colocou como "alternativa" 

Jornal GGN

Repercutiu como um possível recuo, mas ainda não ficaram claras as intenções do vice-presidente Michel Temer (PMDB) com a entrevista que cedeu à equipe de O Globo, publicada na quinta (17). Na primeira exclusiva após a polêmica carta à Dilma Rousseff (PT), Temer repetiu várias vezes que não é "golpista" nem "conspirador", como quem tenta limpar as críticas que recebeu após o "desabafo", mas ao mesmo tempo falou que tem sido constantemente procurado por "setores interessados" no impeachment, e se colocou, ao final como "alternativa constitucional" à presidente.

A própria sequência de perguntas de O Globo favorece o roteiro do vice, que tenta, antes de mais nada, esclarecer que defende a solidez das instituições brasileiras, mas não aceita mais retornar ao segundo plano relegado a um vice "desprestigiado" pela própria presidente.

Temer começou afirmando que "incomoda-me enormemente" o fato de "dizerem que estou tramando contra a senhora presidente da República". "Jamais o fiz", disse ele, "ao contrário, (...) sempre afirmava que ela iria, e nós iríamos até 2018."

Segundo Temer, são inúmeros os agentes que o procuram para debater a saída de Dilma, mas o vice tem resistido porque é um grande defensor da legalidade. "Não foram poucos os setores políticos e da sociedade que me procuraram para dizer que o Brasil deveria tomar outro rumo. Sempre recusei qualquer participação em movimento dessa natureza. Minha fala sempre foi de preservação institucional", afirmou o peemedebista, que salientou que são os "setores interessados" que divulgam boatos sobre sua "conspiração" contra o governo. Além do próprio governo, emendou.

Rompimento com governo

Temer inseriu nos "setores interessados" no impeachment o PMDB, partido que comanda fazendo uma gentileza ao governo, segundo sugeriu na entrevista: evitar o rompimento precoce da aliança com o governo Dilma. "Não são poucas as ocasiões em que o PMDB me insta, quase me obriga, a convocar uma convenção para o rompimento com o governo. (...) Tenho esticado isso precisamente para a data aprazada da convenção que é março do ano que vem. Digo tudo isto para revelar que, em momento algum tive qualquer inspiração, nem aspiração, golpista", garantiu.

Alternativa

Para reforçar a ideia de que não aceita mais o papel de "vice decorativo", Temer fez questão de afirmar que, hoje, o que ele diz nas palestras que realiza desde sempre tem repercussão nacional. "Antes, eu era chamado mas não causava tanto efeito. Hoje, quando sou chamado, as pessoas comentam 'ele é uma alternativa', 'vamos lá ouvi-lo' — é muito provável que haja isso. E o que eu faço? Vou, e digo um pouco das coisas do país."

Em outra passagem, ele disse que o recém apelidado Plano Temer chamou atenção porque "alguém disse algo para o País" que não fosse mais do mesmo sobre Lava Jato, impeachment e Eduardo Cunha. "Acho que tenho certa liderança, tenho uma certa audiência, para explicar o fenômeno que nos levou a fazer isso."

Carta à Dilma

Pela primeira vez, Temer deu algum detalhe sobre o diálogo que teve com Dilma após a publicação da carta que denotou ressentimento do vice quanto à falta de protagonismo político no primeiro mandato. Dilma teria, segundo Temer, ficado "preocupada" com a possibilidade de realmenter ter marginalizado o vice. "Ela foi muito franca comigo, estava bastante emotiva quando nos falamos", relatou.

Temer afirmou ao O Globo que a carta o tornou "popular" e mais "humano" e que, por isso, não entendeu que a repercussão foi negativa. Ele disse que achou uma "piada curiosa" quando, na internet, viralizou a frase inicial da carta - "verba volant, scripta manent: as palavras voam, os escritos permanecem" - associando o PMDB ao interesse em "verba" em primeiro lugar.
A entrevista completa está disponível aqui."









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