O abraço de Temer e PSDB pelo impeachment com cara de terceiro turno


Cíntia Alves, GGN 

De maneira discreta, a Folha de S. Paulo resgatou, essa semana, um artigo de Michel Temer dos anos 1990, que esclarece seu ponto de vista sobre o impeachment: não é um julgamento sobre eventuais crimes cometidos, pois esse se daria em alguma instância do Judiciário. Trata-se de um processo que se dá conforme a "conveniência" da classe política. Se o Congresso entender que a governabilidade de um presidente já se esgotou, o impeachment é a solução.


Temer já teria enquadrado, segundo relatos do Jornal do Brasil, os deputados, um a um, para dizer o seguinte: "'Eu vou assumir. Isso não vai continuar. Você vai ficar comigo ou com o [Leonardo] Picciani?'" - um dia antes de trocar a liderança do PMDB na Câmara por alguém não alinhado com o governo Dilma. Renan Calheiros ficou sabendo da série de intimações e não gostou nada disso, afirmou o jornal.

As declarações de Aécio Neves, Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso publicadas nesta sexta (11), após o PSDB oficializar o apoio ao impeachment, apenas reforçam que o objetivo da oposiçao é acelerar o término do mandato de Dilma, ainda que o processo tenha mais cara de terceiro turno eleitoral - "Não queremos mais essa presidente, vamos juntar votos para tirá-la daí" - do que de deposição por crime de responsabilidade fiscal, de fato.

Afinal, disse Aécio: "as razões objetivas para o impeachment estão colocadas". Que razões? O parecer do Tribunal de Contas da União sobre o exercício fiscal de 2014, que não atinge o atual mandato? Os decretos que autorizaram créditos suplementares, também assinados por Temer e, acima disso, analisados e condenados por órgão nenhum? Ou as supostas "pedaladas fiscais" de 2015, igualmente não apreciadas?

Alckmin sequer tocou no mérito do pedido do impeachment. Argumentou que se não era golpe o PT pedir a saída de FHC no passado, tampouco seria golpe o PSDB encampar o projeto de poder de Temer e trabalhar pela queda de Dilma.

FHC fechou a questão: independente das razões colocadas ou do mérito do pedido em tela, o que importa é ter "clima" para o impeachment. "Se não houver, não há razão que derrube um presidente eleito." Por isso, o tucanato não esconde que conta com Eduardo Cunha para arrastar a sangria de Dilma 2016 adentro, na expectativa de que a população saia das festividades de final de ano para as passeatas anti-PT.

Fato é que o apoio do PSDB ao impeachment - que também tenta cassar o mandato de Dilma via Tribunal Superior Eleitoral - não é novidade nenhuma.

 Apenas deflagra a guerra pelos votos que faltam para derrubar a presidente.

No episódio da comissão especial que analisará a admissibilidade do pedido de impeachment, a oposição saiu com 272 votos a favor de uma chapa que não garante a vitória de Dilma logo no início do processo. Em tese, faltam 70 votos para chegar aos dois terços necessários (342 de 513) para o impedimento. Mas em Brasília, até mesmo dentro do rachado PMDB, a leitura é que o placar da comissão especial não é base para nada.

Pois enquanto o tucanato tenta ajudar a ala de Temer a atingir o quórum do impeachment, o grupo de Renan Calheiros já anunciou que criará dificuldades, a começar pela recondução de Picciani à liderança da bancada. O plano é trocar vários suplentes que estão na Câmara porque os titulares são secretários em gestões estaduais e municipais e retirar parte das 35 de 65 assinaturas de peemedebistas que pediram a substituição de Picciani.

Do outro lado da trincheira, Temer e o PSDB tentarão capitalizar votos entre partidos que detém ministérios, como PRB, PR, PSD e PTB, já que os da oposição não serão suficientes. As manobras de Cunha na Câmara dão tempo e combustível para esse lado da disputa.

Fica claro que para Temer e para o principal partido de oposição ao PT, o impeachment é questão de ter votos, não de motivos plausíveis. Não envolve a reputação de Dilma ou o que ela fez ou tenha deixado de fazer em termos de gestão. Esses fatores só pesam na composição de uma atmosfera popular pró-impeachment, mas quem bate o martelo é o Congresso. E no mérito do que for decidido por lá, o Supremo Tribunal Federal já avisou que não deverá se meter."


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