Golpismo inverte a vontade popular: todo poder aos políticos, com o parlamentarismo

Fernando Brito, Tijolaço

A palestra – talvez fosse melhor chamar de “bate-papo” de Michel Temer com Gilmar Mendes, hoje, na escolinha que o Ministro do Supremo vai espalhando como loja do Mc Donalds  pelo Brasil inteiro ao menos uma utilidade teve.

Mostrar com clareza – óbvio que apenas para os que admitem ver –  que não se pretende apenas a mudança de governo, mas do sistema de governo.

Como em outras oportunidades, o conservadorismo brasileiro quer controlar o país não através do Presidente da República que, afinal, pode ser alguém escolhido por esta desagradável e perigosa vontade popular.

Prefere o parlamentarismo e é isso o que vai prometer à massa amorfa de deputados e – com um pouco mais de dificuldade – aos senadores como “prêmio” pelo voto favorável ao impeachment ou, numa palavra, à revogação da soberania popular na escolha dos governantes.

Michel Temer deixou-o claro hoje, ao defendê-lo, hoje:

“Me atrevo a dizer que a ideia é um semiparlamentarismo. O Congresso passaria a atuar efetivamente junto ao governo e não teríamos os problemas que vivemos hoje –’ah, não tem verba, tirou verba não sei de onde’

A verba que “não tem” ou se tirou “não sei de onde” já sabem onde está, pelo que relata a Folha:

Michel Temer defendeu (…) maior participação dos parlamentares na execução do Orçamento brasileiro e acenou com uma antiga reivindicação de prefeitos e governadores: o fim das vinculações de recursos para saúde e educação.

O povo brasileiro, que em dois plebiscitos  voto esmagadoramente contra o parlamentarismo – em 1961 e 1993 – se vê, de novo, ameaçado por essa turma, que enxerga o governo como uma espécie condomínio entre políticos.

Ele argumenta que os programas sociais não são ação de Governo, mas ditames constitucionais, que independem deles:

“A ideia do ‘Minha Casa, Minha Vida’ está ancorada no princípio constitucional que garante direito à moradia”, disse. E acrescentou: “O Bolsa Família, que teve antecedentes em outros programas do governo anterior, têm por fundamento o direito constitucional que garante o direito à alimentação.”

Resta saber do Dr. Temer qual a razão de, sendo assim, nunca terem sido implementa na década e meia em que, vigindo a mesma Constituição, os pobres não tinham o que comer e – nem ele nem os remediados – a menor expectativa de terem sua casa.

As elites políticas, no Brasil, tem toda a razão de desconfiar do povo, que as detesta.

Mas muito mais elas detestam o povo.

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