Moro prende Bumlai para evitar riscos à investigação e à reputação de Lula

"Além da liberdade do pecuarista poder interferir no andamento das investigações que envolve o contrato do navio-sonda Vitória 10.000, com a cooptação de testemunhas, fraude de documento, Moro alerta para o "uso indevido do nome de autoridades". Alerta pode ser mera estratégia jurídica para evitar que a defesa aponte para o vies político da operação

Patricia Faermann, GGN

"Não há nenhuma prova de que o ex-Presidente da República [Lula] estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução. Fatos da espécie teriam o potencial de causar danos não só ao processo, mas também à reputação do ex-Presidente, sendo necessária a preventiva para impedir ambos os riscos", disse o juiz Sergio Moro, na decisão desta terça (24), que mandou prender o pecuarista José Carlos Bumlai, na 21ª fase da Lava Jato.

Bumlai foi preso por suspeita de intermediar propinas envolvendo o contrato do navio-sonda Vitória 10.000 da Petrobras, o mesmo contrato a que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é investigado em uma das linhas da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). 
A imprensa, de imediato, divulgou que o foco da Operação de hoje afetaria a imagem do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e, consequentemente, o governo da presidente Dilma Rousseff. "PF deflagra Operação Passe Livre, 21ª fase da Lava Jato, e prende amigo de Lula", publicou o Estadão. Contrariamente à mira da investigação, a Folha de S. Paulo foi além: "Nova fase da Lava Jato foca Lula e pode prejudicar Dilma, avalia Planalto".
O juiz federal alertou que o envolvimento do nome de Lula teria sido usado por Bumlai, "por mais de uma vez e de maneira indevida", para "obter benefícios" em negócios fechados no esquema. "Havia o uso do nome do ex-presidente, mas até o momento, em nossos levantamentos não houve alguma intercessão, apenas ouvimos nos depoimentos que as ordens vinham de cima", completou, ainda, o procurador da República, Carlos Fernando dos Santos.
Os jornais da grande imprensa preferiram, contudo, dar credibilidade ao conteúdo dos depoimentos dos envolvidos no esquema de corrupção, ignorando, em um primeiro momento, que o próprio juiz Moro alertou para a necessidade de cuidado.
Em uma dessas delações, o ex-gerente da área internacional da Petrobras, Eduardo Musa, disse que havia uma dívida de R$ 60 milhões da campanha presidencial de 2006, na qual Lula foi eleito, com o banco Schahin, e que o contrato de operacionalização do navio-sonda Vitória 10.000 estaria "abençoado pelo presidente Lula".
Leia alguns trechos da decisão de Moro:

Posteriormente, o blog de Fausto Macedo, no Estadão, publicou o trecho da decisão de Moro, que ressaltava que não havia nenhuma prova contra o ex-presidente petista no empréstimo de R$ 12 milhões do banco Schahin, e que o envolvimento de seu nome seria estratégia dos próprios envolvidos, para alcançar os benefícios. 
O que a reportagem omitiu, entretanto, é que uma das justificativas utilizadas pelo juiz da Lava Jato para prender Bumlai é que, além do risco de fraudar documentos e cooptar testemunhas, o pecuarista poderia tentar interferir no andamento das investigações utilizando o nome de Lula, causando "danos à reputação do ex-presidente". 

 Decisões em busca de demonstrar a garantia de ampla defesa pelo juiz Sergio Moro, adotadas após mais de vinte fases da Operação Lava Jato, podem caracterizar uma estratégia jurídica para evitar futuros questionamentos, considerando, ainda, que os processos tramitam na 13ª Vara Federal de Curitiba - portanto, a primeira instância da Justiça. "

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