"Além da liberdade do pecuarista poder interferir no andamento das
investigações que envolve o contrato do navio-sonda Vitória 10.000, com a
cooptação de testemunhas, fraude de documento, Moro alerta para o "uso
indevido do nome de autoridades". Alerta pode ser mera estratégia
jurídica para evitar que a defesa aponte para o vies político da
operação
Patricia Faermann, GGN
"Não há nenhuma prova de que o ex-Presidente da República [Lula] estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução. Fatos da espécie teriam o potencial de causar danos não só ao processo, mas também à reputação do ex-Presidente, sendo necessária a preventiva para impedir ambos os riscos", disse o juiz Sergio Moro, na decisão desta terça (24), que mandou prender o pecuarista José Carlos Bumlai, na 21ª fase da Lava Jato.
Decisões em busca de demonstrar a garantia de ampla defesa pelo juiz
Sergio Moro, adotadas após mais de vinte fases da Operação Lava Jato,
podem caracterizar uma estratégia jurídica para evitar futuros
questionamentos, considerando, ainda, que os processos tramitam na 13ª
Vara Federal de Curitiba - portanto, a primeira instância da Justiça. "
Patricia Faermann, GGN
"Não há nenhuma prova de que o ex-Presidente da República [Lula] estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução. Fatos da espécie teriam o potencial de causar danos não só ao processo, mas também à reputação do ex-Presidente, sendo necessária a preventiva para impedir ambos os riscos", disse o juiz Sergio Moro, na decisão desta terça (24), que mandou prender o pecuarista José Carlos Bumlai, na 21ª fase da Lava Jato.
Bumlai foi preso por suspeita de intermediar propinas envolvendo o
contrato do navio-sonda Vitória 10.000 da Petrobras, o mesmo contrato a
que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é investigado em uma das
linhas da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
A imprensa, de imediato, divulgou que o foco da Operação de hoje
afetaria a imagem do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da
Silva, e, consequentemente, o governo da presidente Dilma Rousseff. "PF deflagra Operação Passe Livre, 21ª fase da Lava Jato, e prende amigo de Lula", publicou o Estadão. Contrariamente à mira da investigação, a Folha de S. Paulo foi além: "Nova fase da Lava Jato foca Lula e pode prejudicar Dilma, avalia Planalto".
O juiz federal alertou que o envolvimento do nome de Lula teria
sido usado por Bumlai, "por mais de uma vez e de maneira indevida", para
"obter benefícios" em negócios fechados no esquema. "Havia o uso do
nome do ex-presidente, mas até o momento, em nossos levantamentos não
houve alguma intercessão, apenas ouvimos nos depoimentos que as ordens
vinham de cima", completou, ainda, o procurador da República, Carlos
Fernando dos Santos.
Os jornais da grande imprensa preferiram, contudo, dar
credibilidade ao conteúdo dos depoimentos dos envolvidos no esquema de
corrupção, ignorando, em um primeiro momento, que o próprio juiz Moro
alertou para a necessidade de cuidado.
Em uma dessas delações, o ex-gerente da área internacional da
Petrobras, Eduardo Musa, disse que havia uma dívida de R$ 60 milhões da
campanha presidencial de 2006, na qual Lula foi eleito, com o banco
Schahin, e que o contrato de operacionalização do navio-sonda Vitória
10.000 estaria "abençoado pelo presidente Lula".
Leia alguns trechos da decisão de Moro:
Posteriormente, o blog de Fausto Macedo, no Estadão, publicou o
trecho da decisão de Moro, que ressaltava que não havia nenhuma prova
contra o ex-presidente petista no empréstimo de R$ 12 milhões do banco
Schahin, e que o envolvimento de seu nome seria estratégia dos próprios
envolvidos, para alcançar os benefícios.
O que a reportagem omitiu, entretanto, é que uma das justificativas
utilizadas pelo juiz da Lava Jato para prender Bumlai é que, além do
risco de fraudar documentos e cooptar testemunhas, o pecuarista poderia
tentar interferir no andamento das investigações utilizando o nome de
Lula, causando "danos à reputação do ex-presidente".
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