Cunha trata de forma diferenciada manifestantes de diferentes ideologias

"Os manifestantes pró-impeachment têm acesso livre ao parlamento. Já os que pedem 'Fora Cunha' se tornam caso de polícia. 

Najla Passos, Carta Maior

O Salão Verde da Câmara dos Deputados foi palco de duas manifestações divergentes, nesta quarta (4), que escancaram a forma diferenciada com que o presidente da casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), trata as manifestações de diferentes ideologias. Enquanto militantes pró-impeachment da presidenta Dilma Rousseff têm acesso livre, os que pedem ‘Fora Cunha’ se tornam caso de Polícia.

O Salão Verde é um espaço amplo e confortável que dá acesso ao plenário da Câmara, onde os deputados se reúnem para decidir os rumos do país. Por isso, é um dos locais mais movimentados no parlamento: é lá que se posicionam os movimentos sociais que tentam influenciar os votos dos parlamentares, além dos jornalistas que buscam entrevistá-los.

Desde o último dia 28, abriga também oito manifestantes que se acorrentaram a uma das pilastras do espaço para reivindicar que Cunha aceite o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff formulado pela oposição e dê início ao processo. Eles deixaram o posto durante o feriado, mas retornaram na terça (3), com o aval do presidente da casa.  

Nesta quarta (4), apoiaram a tentativa dos principais partidos de oposição de instalar um painel de assinaturas pró-impeachment no espaço. E festejaram as 22 assinaturas de apoio à iniciativa (4,2% do total de 513 deputados), coletadas enquanto os líderes das bancadas do PSDB e do DEM concediam entrevistas à imprensa.

Entretanto, quando a deputada Moema Gramacho (PT-BA) lembrou que as normas internas do parlamento vedam a utilização do espaço para promoção de material político de qualquer tipo, eles hostilizaram a parlamentar, que precisou ser defendida por funcionários da assessoria do PT.

A Cunha, não restou alternativa a não ser mandar retirar o painel irregular. Ele, entretanto, manteve a autorização para que os manifestantes anti-Dilma permanecessem no local com livre acesso.

Pouco tempo depois foi a vez dos militantes do Levante Popular da Juventude realizarem mais um protesto pela cassação do mandado do presidente da Câmara. Enquanto Cunha concedia entrevista coletiva aos principais veículos do país, o jovem Thiago Ferreira, 26 anos, jogou sobre ele US$ 5 milhões em notas fictícias. "Trouxeram sua encomenda da Suíça", explicou o manifestante.

Em nota, o movimento esclareceu que o objetivo da ação foi escancarar as acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro contra o político, já materializadas pelas investigações. “Cunha é acusado de receber US$ 5 milhões, segundo o Ministério Público Federal para facilitar o contrato de aluguel de navios-sonda entre a Petrobrás a empresa Sansung Heavy Industries”, afirma o documento.

O presidente da Câmara procurou manter-se impassível durante o ato e disse à imprensa que não se sentia constrangido com a ação. Entretanto, não fez nenhuma objeção quando a Polícia Legislativa deteve Thiago de forma truculenta e o levou para a Delegacia do Parlamento.

Esta foi a segunda ação do Levante realizada em Brasília, esta semana, para reivindicar o Fora Cunha. Na segunda (2), Dia de Finados, eles se uniram ao MST para promover um escracho na porta da residência oficial do parlamentar, em um dos endereços mais nobres da capital federal. O ato reuniu cerca de 400 pessoas."

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