Luis Nassif, GGN
Nos
próximos dias é possível que José Serra se mude com armas e bagagens
para o PMDB. Há rumores consistentes de que o governador paulista
Geraldo Alckmin vá para o PSB. Antes mesmo de entrar já prestou um
grande favor ao partido: foi ele quem costurou a ida de Marta Suplicy
para o PMDB.
Tudo isso devido ao fator Aécio Neves.
Desde
a morte de Mário Covas e Sérgio Motta, o PSDB foi perdendo substância.
Transformado em referencial único do partido, Fernando Henrique Cardoso
jamais logrou conferir-lhe profundidade programática. Vazio, acomodado,
superficial, FHC contentava-se com boutades para uma mídia extraordinariamente indulgente e em sua revanche permanente com Lula.
O
partido acomodou-se com a aliança com a mídia. Tendo à sua disposição a
maior máquina de construção e destruição de ideias, não soube
alimentá-la de conceitos legitimadores.
Sem
ideias, sem programas, a mídia quedou-se ante um anti-estatismo
primário, em posturas anti-políticas sociais e em discursos
anti-corrupção. Só anti. Não conseguiu sequer elaborar os bons conceitos
liberais.
Grupos
de mídia falam para o fígado e os intestinos, não para o cérebro. E o
PSDB foi atrás. Passou a ter o rosto irado de Aloysio Nunes, o
histrionismo de Aécio, o primarismo de Carlos Sampaio.
Um
a um os intelectuais que ajudaram a fazer o partido foram recolhendo
armas. Os economistas formuladores se recolheram às suas instituições,
como Luiz Carlos Bresser-Pereira e Yoshiaki Nakano. Os financistas, como
Luiz Carlos Mendonça de Barros e Pérsio Airda, contentaram-se em
continuar ganhando dinheiro, mas abrindo mão de militância partidária.
Os cientistas sociais mais ligados a FHC, como Boris Fausto e Arthur
Gianotti, recolheram armas, provavelmente envergonhados com a virulência
desqualificada dos intelectuais neo-tucanos.
Gradativamente,
o PSDB foi se tornando a cara de Aécio Neves e dos Rebeldes Online, em
mais um caso em que o baixo clero se apropria de uma instituição
pública.
A
implosão do PSDB só é surpresa para os desavisados. Há muito tempo era
nítido que jogar todas as energias para destruir o adversário os
deixaria na situação do abraço de afogado.
Agora,
o partido que, junto com o PT, dominou a cena política brasileira nas
últimas décadas, foi entregue ao mais despreparado de seus caciques.
O esfacelamento de ambos os partidos torna as eleições de 2018 uma verdadeira roleta russa.
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