"O custo social da crise é alto. Inútil, porém, para a oposição. Nem
Dilma sai do cargo antes da hora nem está sepultada a chance do PT em
2018
Marcos Coimbra, CartaCapital
Marcos Coimbra, CartaCapital
Digamos ser verdadeira a opinião de que a crise
econômica brasileira é política. Ou em formulação um pouco mais
refinada: sua origem estaria na política e não na economia.
Não é algo incontroverso, mas são tantos os que concordam
com a ideia que ela deixou de ser polêmica. A maioria dos analistas
econômicos, o mercado, a mídia internacional e a “grande” imprensa local
a repetem diariamente. Sem falar na oposição partidária, cujos
expoentes a defendem com unhas e dentes. São eles que mais insistem na
tese de que, de forma simplificada, se Dilma Rousseff fosse removida,
por bem ou por mal, do cargo para o qual foi eleita, os problemas
econômicos do País se resolveriam. Ou, no mínimo, seriam
substancialmente menos graves.
Se acreditarmos nesse argumento,
dele decorrem duas consequências lógicas. Primeira: não teriam sido
eventuais erros na política econômica do primeiro governo Dilma nem as
medidas que tomou desde o início do segundo mandato as razões maiores
das dificuldades presentes. Ao dizer que “a crise é política”, perdemos a condição de responsabilizar a economia, incluída a forma de administrá-la.
Quem sustenta a tese presume que as
causas fundamentais da crise estão na má gestão política: atritos com as
principais lideranças do Congresso e do Judiciário,
incapacidade de formar maiorias estáveis na Câmara e no Senado, falta
de diálogo com as oposições e ausência de interlocução com movimentos
sociais, entre outras. Aí estariam os verdadeiros entraves que impedem a
solução dos problemas atuais.
A segunda consequência é menos óbvia. Se a
origem da crise fosse primordialmente a incompetência da gestão
econômica, seria fácil e até natural inculpar o governo. É dele a
obrigação de evitá-la. Mas, se acharmos que a “crise é política”, as
culpas teriam de ser repartidas.
A inconformidade da oposição em face dos resultados eleitorais é parte inevitável da instabilidade política / Créditos: Lula Marques |
É possível a um governo fabricar sozinho uma crise
econômica, apenas com seus próprios equívocos. Mas não uma crise
política. Para se defrontar com uma, exige-se a ação da oposição. Sem
ela, mesmo que sejam graves, a incompetência e a incapacidade de ação
política não criam perturbações significativas.
O governo Dilma pode ter errado na gestão econômica e sido
inábil na condução política. Mas não é sua a culpa pela crise política
que o confronta. E, se subscrevermos a tese de que a “crise é política”,
não seria dele a responsabilidade pelas atuais dificuldades econômica.
Certamente, não a responsabilidade exclusiva.
Neste fim de outubro de 2015, essas
questões vêm à mente. Completa-se um ano da vitória de Dilma Rousseff na
última eleição, em meio à mais longa e grave crise política do Brasil
moderno, pois as anteriores foram mais breves (a de Fernando Collor
durou três meses) ou mais circunscritas (Fernando Henrique Cardoso nunca deixou de ser o predileto das elites).
Os 12 meses de instabilidade política são
fruto do inconformismo da oposição partidária, que insiste em não
aceitar os resultados eleitorais. Suas lideranças abdicaram de qualquer
papel de pedagogia política e se deixam conduzir pelo que de mais
retrógrado, preconceituoso e burro existe na sociedade. Para fragilizar o
governo, fazem um jogo parlamentar nefasto ao País. As corporações da
“grande” mídia, suas aliadas, criaram e difundiram um clima de pânico na
opinião pública, que levou os brasileiros a expectativas completamente
irracionais a respeito da economia, como mostraram diversas pesquisas
recentes, assim agravando os problemas existentes.
A “crise política” que produziram (e à
qual o governo não conseguiu reagir) está na raiz da crise econômica. E
nenhum dos segmentos da oposição se preocupa com o custo social e humano
da estratégia de seu aprofundamento. Enquanto fazem seu jogo, a
população perde renda e emprego, é forçada a conter projetos e a adiar
sonhos.
O pior é que provocaram muito prejuízo à toa. Nem Dilma
vai sair antes da hora do cargo para o qual a maioria da população a
elegeu nem conseguiram sepultar a chance de vitória do PT na próxima
eleição.
O saldo deste ano, que nos fizeram perder com seu impatriotismo, é péssimo, para o Brasil e para as oposições.
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