Colapso do impeachment deu regressão na Cantanhêde

Fernando Brito, Tijolaço 

"O sinal de que as possibilidades de Eduardo Cunha colocar em marcha um processo de impeachment contra Dilma Rousseff, depois das liminares do Supremo e das contas  a Suíça e nos Estados Unidos tiraram do sério a Dona Eliane Cantanhêde, que passou a dizer impropérios e a condenar inapelavelmente Lula pelo que disseram que fizeram por seus filhos, noras, amigos, sem apresentar uma provinha que fosse, senão a do “o Baiano falou”.

Sua coluna de hoje é do tipo que vai dar um bom dinheirinho a Lula e sua família, se ela levar o merecido processo por acusar o ex-presidente da maneira que acusa, com as certezas próprias de quem não precisa de nada além do seu ódio para emitir julgamentos.

Sobre Eduardo Cunha e sua amizade colorida com o tucanato, nadica de nada,  exceto a historinha psicografada de que Lula “atirou-se de cabeça” em sua defesa. Onde, além da ficção jornalística?

Mas o mais sintomático deste “piti jornalístico” é ela ter praticado outro daqueles momentos de parcialidade explícita que ficou famoso: o da “massa cheirosa”  dos tucanos.

Trata-se de uma regressão infanto-juvenil, onde a Cantanhêde quase  invoca a poderosa e infalível “Liga da Justiça” made in Curitiba , que está livre das vicissitudes humanas  e há de nos salvar de todos os males:

“Esses delegados, procuradores e juízes que andam por aí azucrinando ricaços e poderosos têm uma formação impecável, sabem o que estão fazendo e têm fortes conexões com os Estados Unidos, a Itália, o Uruguai, a Suíça… Eles não são nem de direita nem de esquerda. E não estão aí para brincadeira.”
Francamente, não há meia linha no parágrafo que possa fazer sentido para qualquer pessoa com um mínimo de bom-senso e equilíbrio. É um simples louvor aos que seriam  justiceiros, os vingadores, não os agentes de instituições que devem ter equilíbrio, prudência, impessoalidade.

Pior, sem um grama do que possa ser considerado jornalismo com fatos, não simples rasgação de seda ao “time de Moro”

Os ricaços e poderosos que estão sendo azucrinados – bonito nome para seis meses de cadeia – o estão não por ser ricos e poderosos, qualquer um sabe. Tanto que não azucrinam os Daniel Dantas, os Marinho, os megaempresários que não têm serventia para atingir o Governo. Nem azucrinam os empreiteiros pelas obras contratadas com governos estaduais – certamente sem favores ou comissões – ou pelas milionárias doações a partidos de oposição, estas puras, castas e santas, movidas pelo mais genuíno desejo de livrar o Brasil do “lulopetismo”.

E a formação impecável, hein? O que seria “formação impecável”?  Estudar muito e passar num concurso? A senhora pediu o currículo de cada um? E como é que fica o fato de terem feito escuta ilegal na cela de Alberto Youssef?

As ” fortes conexões com os Estados Unidos, a Itália, o Uruguai, a Suíça…só podem ser piada, né? Contato entre procuradores de países diferentes  só podem ser feitos pela via institucional, não por amiguismo ou bons serviços. Dá até pena disciplinar se conduzirem sem a devida formalidade, pois são relações entre países. Aliás, isso é o de menos: se algum réu conseguir mostrar que chegaram informações não solicitadas oficialmente ou não, pelo menos, oferecidas de forma oficial por Estados estrangeiros, o que dá é nulidade processual.

E ficamos sabendo que a D. Cantanhêde tem, também, uma “máquina de medir ideologia”, que lhe permite afirmar que eles “não são de  esquerda nem de direita”….

“E não estão aí para brincadeira”? Quem está, D. Cantanhêde, os demais juízes, os demais procuradores, os demais delegados?

Se o Lula não processar Cantanhêde é capaz que a DC Comics o faça, por apropriar-se da “Liga da Justiça” em sua coluna…"

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