A hora do esculacho como estratégia política

Luis Nassif, GGN

"Não se imagine que o exercício cotidiano de esculachar a presidente Dilma Rousseff se deve apenas ao humor irrefreável do brasileiro. É estratégia política calculada.

Logo após a conquista da sede das Olimpíadas e da Copa do Mundo, fui convidado para participar de um programa da MTV, de propriedade da editora Abril.

A apresentadora era pessoa legal, boa jornalista, com boas ideias.

Mas, em determinado momento do programa, bateu a hora do esculacho. A apresentadora mencionou uma declaração recente de Lula – sugerindo aos turistas que viessem ao Brasil fugir das ruas escuras – para um festival de pancada. Depois, me contaram que era praxe diária do programa.

Ele deu o mote: Lula comportou-se como guia turístico, não como presidente da República. Depois, passou o chicote, digo, o microfone, para cada convidado poder vergastar a besta fera.

Quando chegou a minha vez, pedi licença para algumas observações à parte.
Por aqueles dias, o modo de ser brasileiro dominava o mundo. Nas praias da França e da Itália, a moda eram camisetas verde-amarelas. Nas conversas com executivos franceses e italianos, eles atribuíam a moda ao modo de ser brasileiro, descolado, amigável, alegre.

Contei que, quando Domenico de Masi organizou o trabalho “A cara do brasileiro”, o que sobressaiu foi a música popular, o artesanato, as novelas da Globo mas, acima de tudo, as festividades, do carnaval às festas juninas, nada mais representativo do modo de ser brasileiro.

Lembrei que no filme que lança ao mundo Zé Carioca, aparece um pincel desenhando o boneco. Quando completa o desenho, Zé Carioca ganha vida e a primeira coisa que faz é um abraço apertado em Pato Donald, deixando-o extasiado.

Depois dessa introdução, disse que Lula representava a face mais completa desse modo de ser. E lembrei a história do primeiro-ministro espanhol Zapatero.

 Logo após ter perdido a Copa para o Brasil, foi abraçado calorosa e solidariamente por Lula. No final do ano, em artigo no El Pais, Zapatero confessava que aquele foi um dos momentos mais emocionantes da sua vida. Ou seja: tudo aquilo que caçoávamos, ali, no programa, tinha sido objeto da mais simpática reação das maiores autoridades do planeta – lembram-se de Obama dizendo de Lula que “este é o cara”?

Ao chegar em casa, recebi e-mail simpático da atriz (filha de atriz conhecida), que participara do programa, agradecendo pelos esclarecimentos e admitindo que não tinha pensado sobre o tema. E estava-se no auge da popularidade de Lula."

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