A gestão Haddad e a mudança de paradigmas

Luis Nassif, GGN

Nas últimas semanas, a gestão de Fernando Haddad, na prefeitura de São Paulo, foi objeto de reportagens elogiosas no Wall Street Journal, no New York Times e em evento da prefeitura de Paris.

Ontem, no Seminário Brasilianas "Cidades Saudáveis", Haddad explicou sua gestão.

O grande desafio das grandes cidades será trabalhar em mudanças comportamentais e quebras de paradigmas.  “Até 50 anos atrás, ninguém imaginaria conglomerados urbanos com mais de 10 milhões de habitantes. Hoje, existem dezenas delas, exigindo uma nova ciência. Será necessária uma quebra de paradigmas. A maneira como os americanos conceberam, cidades e subúrbios não vai prevalecer por questão material: a menos que inventem carros que voam”.

E aí o grande desafio para o prefeito é buscar na academia as soluções para esse desafio. "Não se pode voltar as costas para a produção acadêmica", diz ele. "Tem farta produção que vai aumentar cada vez mais. Um prefeito não pode se fiar apenas no senso comum".

Como exemplo dessa falta de alinhamento com a academia, Haddad menciona os investimentos bilionários na malha viária voltada ao transporte individual, como foi o caso das marginais.

“Há anos não se investe assim em todo mundo, diz ele. A teoria do trânsito induzido mostra que quanto mais ampliar o espaço do veículo individual, mas trânsito haverá. Depois da ampliação o trânsito aumentou 80% nas marginais”.

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Hoje em dia, em qualquer grande capital do mundo - seja na Europa ou na América Latina - um dos pontos centrais das leis de uso de ocupação do solo é o conceito do multiuso.

Em Paris, os novos bairros são construídos para multiuso, imóveis mais caros junto com imóveis populares, áreas de comércio e de serviços públicos, em uma mistura que permita o subsídio cruzado. Isto é, os maiores lucros obtidos com os imóveis de maior valor compensando as margens menores nos imóveis populares.

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No Brasil, o Plano Nacional de Mobilidade Urbana, de 2012, determina as prioridades: primeira prioridade, o pedestre; depois, os ciclistas; em terceiro lugar o transporte público; em quatro, o transporte de cargas. E apenas em 5o, o transporte individual motorizado.

Segundo Haddad, trata-se de uma mudança paradigmática, equivalente ao Estatuto da Cidade, de 2001. 

As medidas adotadas para São Paulo se inserem nesses princípios, como a construção de ciclovias, a moderação de velocidades. Em Nova York, há 3 mortes por 100 mil habitantes por ano; em Tóquio, 1,5 morte. Em São Paulo estava em 12, caiu para 9 e a meta é 6.

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Ele não se considera um inovador. "Estou copiando o que ocorre no mundo inteiro, com dez, quinze anos de atraso. É o mesmo que perseguem os prefeitos de Bogotá, de Medellín, de Buenos Aires e do circuito chique de Paris, Londres e Amsterdam. "Estamos apenas promovendo a distribuição democrática do que é público e que foi privatizado: as ruas, calçadas, fachadas".

O primeiro passo para o prefeito que quiser quebrar paradigmas é ter convicção do que está fazendo, para não fraquejar quando vierem as críticas.

Haddad menciona o corredor de ônibus na 23 de maio. Havia polêmica inclusive na CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). A maioria era a favor. Mas a minoria prevalecia por a classe política tinha por hábito adotar a postura de menor atrito.

Segundo Haddad, um truque que funciona na política é: se a imprensa bate em um problema, crie outro que acabam esquecendo o anterior. As faixas de ônibus ganharam um respiro na mídia quando o tiroteio se voltou contra as ciclovias. E as críticas às ciclovias reduziram-se quando implementou a redução de velocidade.

Finalmente, pela terceira lição: se não for para testar hipóteses, correr riscos, falar com a cidade, não há porque seguir a política."

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