Luis Nassif, GGN
"Em
geral, os empresários referenciais falam pouco e têm foco. Aparecem
mais pelo exemplo e pela coerência de suas propostas do que pela
verborragia.
Quando o empresário julga que sua palavra ganha peso apenas por vir escorada em negócios bem-sucedidos, dança.
É
o caso do empresário Flávio Rocha, herdeiro e presidente das Lojas
Riachuelo – grupo que têm ainda a Confecção Guararapes e algumas outras
empresas.
***
Mais
jovem, Flávio não largava do pé do grande Roberto Campos, provavelmente
supondo que inteligência se transmitisse por contato. Não conseguiu.
Neste fim de semana concedeu uma entrevista ao Estadão (http://migre.me/rtd6j),
onde não teve a menor cerimônia de tratar de temas complexos com a
segurança de um vendedor da Riachuelo expondo a última moda para a
freguesa deslumbrada.
***
-- Vamos começar com uma boa notícia – começou ele, antecipando a intenção de desenvolver ideias e conceitos.
Aí
discorre sobre o fim de um ciclo de ideias ruins, insustentáveis,
compara o país com uma carruagem cujos “elementos de tração” são as
empresas e os trabalhadores.
Com
a mesma naturalidade com que seus vendedores exibem peças de vestuário
nas vitrines, Flávio transborda filosofices e lugares comuns, cujo ápice
foi a parábola do tomate:
-
Quando você vê o preço do tomate aumentar é um alerta importante que
denuncia uma escassez localizada. E o que se faz nessa hora? Nada. Deixa
a ganância empresarial atuar. O produtor vai descobrir que tomate está
dando lucro, mais gente vai produzir tomate, aumentar a oferta e o preço
volta para onde estava. Dilma ignorou essas delicadas engrenagens da
economia.
É
a primeira vez que alguém denuncia o tabelamento do preço do tomate.
Choques de oferta, de demanda, política monetária, demanda agregada, que
bobagem! O must é discutir o tabelamento do tomate.
Mais importante é o que Flávio diz sobre o mundo que ele conhece: o empresarial.
--
Tem o empresário de mercado e tem o empresário de conluio. (...) O
termo campeões nacionais, até outro dia, fazia parte do discurso
nacional. Um absurdo. (...) Muitas vezes, você olha e diz: ah, são os
empresários. Mas vai ver e o que tem é o clubinho do capitalismo de
conluio.
***
Nem
se vá buscar as origens da Guararapes, nos tempos em que o Finor (Fundo
de Investimento do Nordeste) era um aparelho de queimar dinheiro
público para propósitos privados.
Uma ida ao site do BNDES permitirá identificar rapidamente quem são esses empresários do clubinho do capitalismo de conluio.
Clique no endereço http://www.bndes.gov.br/bndestransparente no campo Busca coloque a palavra Riachuelo.
-
Outubro de 2009: financiamento de capital de giro. R$ 100 milhões a juros de 3,58% ao ano e 12 meses de carência.
-
Janeiro de 2010: financiamento de R$ 286,7 milhões para implantação de mais 19 lojas. Taxas de juros de 4,5% ao ano, com 18 meses de carência.
-
Junho de 2011: R$ 229,3 milhões de financiamento para abertura de mais 25 novas lojas. Taxas de juros de 5% ao ano, com 18 meses de carência.
-
Agosto de 2012: R$ 140 milhões de financiamento para a abertura de mais 18 lojas. Taxa de juros de 5,5% ao ano.
-
Dezembro de 2013: R$ 397,9 milhões para expansão das unidades industriais e centros de distribuição. Taxa de juros de 3,5%, com 18 meses de carência.
Apenas
nessas operações R$ 1,2 bilhão em 5 anos. Provavelmente o valor
desembolsado deve ser muito maior, se consultar por outros CNPJs – o
grupo é constituído de várias empresas."
Comentários