Protesto menor deve dar mais gás a acordo Dilma-Renan


"Previsão de agosto sombrio perde força, mas milhares na rua são alerta

Kennedy Alencar, Blog do Kennedy

Com menos gente nas ruas, os protestos deste domingo deverão dar mais gás ao acordo firmado entre o governo Dilma Rousseff e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Dados divulgados pela Polícia Militar até por volta das 14h30 indicavam que as manifestações de hoje perderam fôlego na comparação com março e abril. Isso deve ter efeito político positivo para o governo, sobretudo em relação ao ânimo dos deputados e senadores.

Havia a previsão de que agosto seria um mês sombrio para Dilma, mas na última semana o cenário político sofreu uma importante inflexão. A presidente colheu decisões positivas ou neutras no STF, no TSE e no TCU e conseguiu ganhar um fôlego. O impeachment ficou mais distante. E, em entrevista ao SBT, a presidente disse que ‘jamais cogitou renunciar’.

A partir desta semana, a estratégia do governo será dar mais força ao arranjo político com Renan. Seria um erro do Palácio do Planalto achar que, com menos gente nas ruas, possa abrir mão do apoio dos senadores ou de Renan.

Dilma já disse que concorda com parte da “Agenda Brasil”, proposta pelo presidente do Senado. Ainda que não seja favorável a algumas medidas, é possível que o governo faça concessões e chegue ao acordo em vários pontos da agenda.

A crise política ensina que o isolamento de Dilma no Congresso tem impacto direto na economia. Para enfrentar a crise econômica, o governo sabe que precisa de uma recomposição de forças no parlamento.

Com a reaproximação da presidente com Renan, aumentou o isolamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O governo sinalizou aos deputados que tem alternativa para realizar sua articulação política e que não está fora do jogo.

Também está para sair do forno uma denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra um grupo de políticos investigados no STF no âmbito da Lava Jato. Os bastidores indicam que Cunha deverá ser denunciado.

O presidente da Câmara tem funcionado como catalisador da rebeldia de deputados em relação à Dilma. A consistência da denúncia de Janot e o seu efeito político sobre Cunha serão fatores importantes para entender os desdobramentos da crise.

O movimento do governo também isolou uma ala mais radical da oposição, que falava até em convocar nova eleição. Isso está bem distante no atual cenário, porque dependeria de uma decisão do TSE que cassasse a chapa Dilma-Temer. Mesmo que houvesse uma decisão nesse sentido no tribunal, haveria possibilidade de recurso no STF.

Isso não significa que as coisas estejam resolvidas para Dilma e que o governo possa menosprezar a presença de milhares de brasileiros nas ruas. Os protestos são sempre sinais de alerta, que requerem respostas e soluções.

Por ora, a orientação do governo é tratar as manifestações como algo dentro da normalidade democrática e evitar qualquer tipo de provocação, como a que foi feita pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, que disse que era preciso “pegar em armas” na última quinta. É uma frase inexplicável e inadmissível em uma democracia.

Pela primeira vez, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) participou de um protesto de rua contra o governo Dilma Rousseff. É a terceira manifestação que ocorre neste ano e, ao que tudo indica, a mais fraca de todas. A oposição chegou atrasada às ruas.

Na avaliação de dirigentes do próprio PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os partidos não deveriam tentar tutelar movimentos da sociedade para que eles não percam seu caráter mais amplo.

Mas um segmento do PSDB tentou ter uma participação mais orgânica neste domingo. A propaganda política dos tucanos convocava os eleitores para irem às ruas protestar. Em Minas Gerais, Aécio chegou a fazer um discurso aos manifestantes em cima de um trio-elétrico. Isso dá um tom mais partidário ao movimento.

Será preciso aguardar os próximos dias para ver que efeito político terá a participação mais efetiva de Aécio e da oposição nas manifestações de hoje.

Ao final do dia, estimativas do Datafolha e da PM (Polícia Militar) estimaram o público de hoje como intermediário entre os protestos de março e abril. Ainda que a impressão do dia tenha sido de menos gente na rua do que em abril, essa medição está distante do público de março e mais longe ainda do que o governo imaginava que poderia acontecer quando fazia prognósticos dez dias atrás sobre o que aconteceria neste 16 de agosto."

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