Luis Nassif, GGN
O
factoide protagonizado pela advogada Beatriz Catta Preta é
significativo para se entender a próxima etapa do jogo do impeachment.
Beatriz
trabalhava no escritório do ex-procurador, ex-desembargador Pedro
Rotta, já falecido. Uma breve pesquisa na Justiça Federal indicará que
Rotta provavelmente foi o recordista na concessão de habeas corpus para
grandes traficantes. Uma breve investigação sobre os bens que ficaram em
nome da viúva mostrará parte da sua carreira jurídica.
Como
procurador, Rotta foi transferido para São Paulo por Golbery do Couto e
Silva para resolver os problemas do Banco Cidade com a justiça.
Posteriormente, tornou-se desembargador do TRF3. Foi através do
escritório de Rotta que Beatriz conheceu seu futuro marido, processado
por falsificação de dólares.
Ela
é peça central para entender o jogo da Lava Jato. Por que razão uma
advogada criminal pouca conhecida, que transitava apenas pelo baixo
submundo do crime, se tornou advogada de todas as delações? Quais seus
contatos anteriores, para se tornar o canal entre os detidos e a força
tarefa e o juiz Sérgio Moro? Quem bancava seus honorários, se não eram
os detidos? E porque os detidos se valeram apenas dela para aceitar o
acordo de delação?
A frente heterogênea
Não é preciso decifrar o enigma Catta Preta para entender os desdobramentos do seu último lance, contra Eduardo Cunha.
A frente anti-Dilma é composta de diversas cabeças, com poucas afinidades entre si.
Mais cedo ou mais tarde as alianças de ocasião tenderiam a se desfazer, conforme já cantei há tempos aqui.
Eduardo
Cunha tornou-se instrumento da mídia para enfraquecer Dilma. Ao mesmo
tempo, tornou-se o principal osbstáculo ao impeachment. Se Dilma fosse
impichada por razões eleitorais, o vice-presidente Michel Temer iria
junto.
E a República ficaria por bons meses nas mãos dele, o
suspeitíssimo Eduardo Cunha.
Nem
o mais irresponsável oposicionista gostaria de correr um risco desses.
Não bastasse a enorme capivara e falta de limites, Cunha representa uma
força política – a dos evangélicos – que é a maior ameaça ao predomínio
da Globo.
É
por isso que os bravos comentaristas políticos da velha mídia, como em
uma quadrilha junina (a ponte quebrou! Olha a cobra!) se mantiveram
alertas e disciplinadamente unidos em torno de ordens que mudam ao sabor
dos ventos.
A
última ordem é: delenda Cunha. Com ele fora do jogo, abre-se espaço
para uma solução palatável: o vice-presidente Michel Temer, com
influência no PMDB, especialmente com Cunha fora do jogo, e largo
trânsito no PSDB – quando o partido foi formado, seu mentor Franco
Montoro pediu-lhe que ficasse no PMDB para ser o ponto de contato com o
grupo que o acompanhou.
É
em torno dele que estão se articulando grupos do PMDB alijados pelo
governo Dilma (Renan, Jucá etc), grupos do PSDB ligados a José Serra e
grupos de mídia.
Remove-se um obstáculo ao impeachment, mas não os demais.
Para
tirar Dilma terão que aplicar um golpe paraguaio. As implicações
sociais e políticas continuarão sendo grandes. Terão que convencer um
dos pais da Constituição de 1988 – o próprio Temer – a embarcar em uma
aventura. E administrar os interesses políticos dos três grupos do PSDB:
Alckmin, Serra e Aécio.
O fim do pacto com a Lava Jato
O
próximo passo da oposição será o enfraquecimento da aliança com a Lava
Jato, assim que estiverem mais firmes as articulações em torno de Temer.
A
Lava Jato e o juiz Sérgio Moro conseguiram implantar um regime de
terror no país. Interessa enquanto peças do enfraquecimento do governo
Dilma. Não mais que isso. Gilmar Mendes já começou a externar críticas
e, em breve, pode-se esperar o fim do pacto entre mídia e Lava Jato."
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